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As desigualdades económicas das mulheres agigantam os desequilÁbrios de género e perpetuam a violência baseada no género (VBG). A discriminação económica assume as mais variadas formas. Por exemplo, os trabalhos exclusivamente reservados para as mulheres, por puro machismo, são, regra geral desvalorizados ao olho dos homens e mal remunerados. As mulheres estão praticamente ausentes no fórum de tomada de decisÁµes económicas. Enquanto isso, elas tendem a ser empregadas em trabalhos mal pagos e menos qualificados. Nos paÁses em desenvolvimento as mulheres, de forma reiterada, representam a maioria dos trabalhadores pobres. A perda de poder económico da mulher é ainda agravada pelas disparidades educacionais entre rapazes e raparigas.
Além disso, e mais preocupante ainda é que ao longo de 2014, as poucas mulheres que poderão ter acesso a economia, não são pagas salÁ¡rio igual por trabalho igual. Isto não é um fenómeno de uma economia em desenvolvimento – é uma tendência global. Estima-se que as mulheres nos Estados Unidos, auferem 78% do que ganham os homens, na Grã-Bretanha, as mulheres ganham 15% menos que os homens e na África do Sul, as mulheres ganham 35% menos que os homens. Em outras palavras, os homens podem ganhar em oito meses o que as mulheres ganham em 12 meses. De todas as perspectivas – constitucionais, legais e éticas é absurdo e intrinsecamente injusto alem de tal fenómeno discriminatório configurar uma flagrante violação dos direitos humanos.
As mulheres também estão desempoderadas dentro do “sector informal’- um sector em que as mulheres superam os homens na maioria dos paÁses, porque estão Á margem da “economia formal”. Normas sexistas persistentes negam Á s mulheres o acesso aos recursos produtivos bÁ¡sicos, tais como a terra e o crédito. Assim, as mulheres têm que optar em micro-finanças, que oferecem pequenos empréstimos, por isso, não suficientes para o crescimento das pequenas empresas.
Enquanto as micro-finanças têm desempenhado um papel importante na vida das mulheres, os governos devem assegurar uma legislação que garanta a igualdade de acesso aos recursos produtivos e de crédito para as mulheres, ao mesmo tempo que devem promover modelos de financiamentos alternativos para atender Á s necessidades das mulheres de negócios a todos os nÁveis. Além disso, os bancos devem ser chamados a desenvolver mecanismos de empréstimo que respondam Á s necessidades de género, uma vez que as mulheres, muitas vezes, não possuem garantias devido a “normas” tradicionais, culturais e sociais que impedem a herança e a propriedade da terra Á s mulheres.
A falta de acesso Á economia e finanças adequadas reforça as desigualdades de género e ajuda a incrementar a VBG. Quando as mulheres são dependentes de homens para o seu bem-estar e sobrevivência económica, vulnerÁ¡veis tornam-se a relacionamentos abusivos, o que perpetua o seu abuso e mais ciclos de ampla violência contra si. De acordo com os estudos da VCM da Gender Links, o abuso infantil e a experiência de violência nas crianças são um factor motivacional da VBG. A maioria dos perpetradores entrevistados admitiram ter testemunhado ou experimentado violência quando crianças.
O abuso económico é também uma forma de VBG, utilizado por perpetradores como arma de controlo que lhes dÁ¡ mais poder para fÁsica, mental e emocionalmente abusar das mulheres. O abuso económico pode incluir a restrição da mobilidade e da liberdade de movimento através da recusa do acesso ao dinheiro; recusa de renda independente; ou restringir o acesso ao dinheiro apenas para uso doméstico (apenas para alimentos e vestuÁ¡rio).
Foi pois a pensar nesta conexão entre dependência económica e a vulnerabilidade Á VBG que a GenderLinks desenvolveu o programa de Empreendedorismo destinado a sobreviventes de violência. O programa ensina habilidades de vida e formação profissional para ajudar as mulheres a se tornarem autossuficientes, autónomas e livres para negociar suas vidas. Até Á data, a GL treinou 1200 (mil e duzentas) mulheres em dez paÁses da SADC desde 2013, devendo continuar a apoiÁ¡-las através de acordos de parceria com ambos os setores público e privado.
Este tipo de capacitação deve ser transversal a todos os planos de acção nacionais para combater todas as estratégias de VBG e para a igualdade de género. Esta agência e autonomia dÁ¡ Á s mulheres a liberdade de escolher e a capacidade de participar em todas as esferas da vida pública e privada. Pelo que, não só precisamos de 365 dias de compromisso polÁtico e social para a erradicação da VBG, como também precisamos de 365 dias de capacitação ou empoderamento!
Anne Hilton é Gestora de Empreendedorismo na sede da Gender Links. Ela jÁ¡ trabalhou no desenvolvimento empresarial nos últimos 15 anos. Este artigo faz parte do Serviço de Noticias da Gender Links, serie especial dos Dezasseis Dias de Activismo, oferecendo novas ideias sobre notÁcias do dia-a-dia.
📝Read the emotional article by @nokwe_mnomiya, with a personal plea: 🇿🇦Breaking the cycle of violence!https://t.co/6kPcu2Whwm pic.twitter.com/d60tsBqJwx
— Gender Links (@GenderLinks) December 17, 2024
Comment on África Austral: A desigualdade económica aumenta violência de género