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Maputo, 30 de Novembro de 2012 À“ Os anúncios recentes de que os parceiros de cooperação vão cortar parcial ou totalmente o seu apoio financeiro nos esforços tendentes a parar e reverter a propagação do vÁrus do HIV e SIDA não podiam ter surgido numa mÁ¡ altura.
Apesar das estatÁsticas oficiais (INSIDA) indicarem que a taxa de prevalência reduziu de 16.4 porcento para 11.5 porcento, o cenÁ¡rio continua preocupante. Na vila fronteiriça de Namaacha estima-se que 16 mulheres em cada 20 testadas estão infectadas.
O corte de apoio parcial ou total poderÁ¡ afectar instalaçÁµes de saúde como o Centro de Saúde de Namaacha, que actualmente enfrenta dificuldades de vÁ¡ria ordem devido Á falta de apoio suficientes para realizar cabalmente os seus serviços atinentes ao tratamento dos casos da pandemia do HIV e SIDA.
O centro começou com o serviço de testagem em 2002, e que por sua vez calculou a taxa de prevalência a nÁvel do distrito e detectou um desequilÁbrio assinalÁ¡vel; as mulheres são as mais infectadas, o que impÁµs que se pretasse maior atenção a este grupo. AliÁ¡s, para além de residentes existem também as do paÁs vizinho, que também parte das suas vidas passam naquelas paragens, fazendo, inclusive, testagem sobre HIV e SIDA.
Neste distrito, em cada 100 pessoas que fazem o teste 20 a 25 estão infectadas, o que significa uma cifra de 20 a 25 porcento. Mas, no caso particular de mulheres a situação é mais assustadora, pois em cada 20 mulheres testadas 16 estão infectadas pelo vÁrus do HIV.
Olhando para os dados colhidos nas autoridades locais, estão registados neste momento cerca de 2500 pessoas (ambos os sexos) infectadas, das quais somente 647 estão a beneficiar de tratamento, o que representa um pouco acima de um quarto das pessoas necessitadas (25.9%).
Portanto, os últimos pronunciamentos dos doadores de retraÁrem o seu apoio vai certamente atrofiar todo a esperança depositada no tratamento, além de levar algumas pessoas infectadas e doentes a procurar tratamento tradicional alegadamente para garantir continuidade, o que é preocupante conhecida a sua insegurança e riscos.
“Estranhamente, vÁ¡rios doadores decidiram quase ao mesmo tempo parar de doar medicamentos para o paÁs, todos os centros de Médicos Sem Fronteira foram fechados, mesmo vendo que a pandemia estÁ¡ a dizimar milhares de moçambicanosÀ, referiu uma fonte sanitÁ¡ria local, tendo de seguida ajuntado que “por sua vez, os pacientes quando vêem e ouvem estes tipos de pronunciamentos até chegam a desistir mesmo estando a fazer o tratamento, preferindo procurar o meio tradicional, enquanto este não é aconselhÁ¡vel uma vez que o paciente quando pÁ¡ra de medicar traz-lhe muitas consequências nefastas, incluindo profundas mudanças fÁsicasÀ, aludiu.
“Agora imagine as pessoas que jÁ¡ começaram com o tratamento e desistem, porque querem voltar aos seus locais de trabalho doutro lado da fronteira ou noutros locais, e que lÁ¡ por sua vez não tem o mesmo medicamento que tem aqui, situação que dificulta a situação do doente e este prefere desistir aderindo a medicação tradicional, que por sua vez tem as suas consequências colateraisÀ, referiu a fonte que preferiu o anonimato.
Segundo esta fonte, quando as pessoas desistem do tratamento, baixa o CD4 e provoca-se outras doenças oportunÁsticas, tais como a pneumonia, bronquite, problemas pulmonares, falta de respiração, entre outros.
Outra razão apontada para a desistência nos tratamentos anti retrovirais, prende-se, alegadamente, o problema de alimentação. “Outros desistem do tratamento anti-retroviral e a sua justificação é de que não tem o que comer após a medicação, e o tempo vai passando e muitas mudanças vão acontecendo e o número de sepulturas vai aumentandoÀ, desabafou em alusão a crescentes casos de morte devido ao HIV e SIDA, aliadas ao desleixo humano.
OrganizaçÁµes da sociedade civil tais como a Associação Tiane, que faz palestras no sentido de sensibilizar as pessoas para que estas se consciencializem sobre o que acontece e pode acontecer se desistirem de tomar a medicação, poderão ficar afectadas caso os doadores decidam ir em frente com as ameaças de corte de financiamento.
Ademais, todo o trabalho que foi feito ao longo destes anos todos corre o risco de ir abaixo. As consequências podem ser desastrosas, com uma reversão da taxa de prevalência do HIV e SIDA.
Se considerarmos que as mulheres e crianças é que são as mais infectadas e afectadas, pode-se dizer que com o corte de financiamentos as mortes serão maiores no seio deste grupo. Isto pode até levar a casos onde podemos ter crianças como chefes de famÁlia À“ estou a imaginar o que a falta de um adulto poderÁ¡ significar, com os menores susceptÁveis de cair nas redes de traficantes e abusadores de menores.
Portanto, Moçambique deverÁ¡ a breve trecho encontrar alternativas que possam garantir que os actuais nÁveis de acesso ao tratamento continuem, e que se previnam novas infecçÁµes.
Ao fazer isso, o paÁs estaria a garantir que o Protocolo da SADC sobre Género e Desenvolvimento seja cumprido. O Protocolo apela aos governos da região que sejam mais sensÁveis ao género, a fim de prevenir novas infecçÁµes, garantir o acesso universal ao tratamento de HIV e SIDA para homens, mulheres, rapazes e raparigas infectadas até 2015.
Ademais, o Protocolo apela aos doadores a oferecerem recursos e apoio. Certamente que o anúncio do corte vai contra esta clÁ¡usula do Protocolo.
Hamina LacÁ¡ é uma repórter do Jornal Público. Este artigo faz parte do Serviço de Opinião e ComentÁ¡rio da Gender Links
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