TiozÁµes: Uma estratégia de empoderamento ou desempoderamento


Date: June 7, 2013
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Numa recente tarde quente e húmida, na piscina da Indy Village, em Maputo, entraram quatro pessoas. Dois eram homens nos seus sessenta anos, carecas, com barrigas maiores que gravidezes de nove meses, e banhas de carne de cor de salmão emergindo dos fatos de banho. Duas eram mulheres dos seus 20 anos, elegantes e lindas, com uma perfeita pele de cor de canela e café.

A disparidade era óbvia. Este não era uma quarteto de avôs e netas. Eram dois tiozÁµes com as suas catorzinhas. Notei olhares de desaprovação dentre os utentes da piscina naquele SÁ¡bado. Algo estranho tinha se intrometido na previsÁ­vel cena de jovens famÁ­lias na piscina da Indy.

Coloquei o meu livro de lado, The Time of YouthÀ, uma observação da antropóloga moçambicana, Alcinda Honwana, sobre jovens em Moçambique, África do Sul, Senegal e Túnisa. Recomendo. Perceptivo e bem escrito, ampliou a minha compreensão de jovens com os quais me cruzo na rua, nas redacçÁµes À“ e nas piscinas.

Honwana descreve o crescent fenómeno de tiozÁµes e titias. Quando a educação é cara e empregos escassos, as raparigas À“ e em menos escala, rapazes À“ se engajam no sexo transacional, inter-geracional com parceiros mais velhos e ricos: sexo em troca de presentes e dinheiro, extensÁµes, roupas, crédito e celulares.

Muitas raparigas mantêm namorados da sua idade para prazer, e um ou vÁ¡rios tiozÁµes para rendimentos. Os namorados aceitam esse arranjo.

Honwana descreve isso como um fenómeno empoderador onde essas raparigas definem as suas identidades social e sexual, escolhem os seus parceiros e avaliam os riscos que correm.

“O sexo transacional é visto como uma estratégia através da qual são capazes de reverter a existente balança das relaçÁµes de género e poder e ganham acesso aos bens materiais e estilo de vida que simboliza a modernidade e sucesso,À escreveu.

Não estou certa de que o sexo transacional empodera as raparigas, embora veja como permita a acção sexual feminina À“ o segredo cujo nome não se podia dizer até ser desmascarado na última década por pesquisas relacionadas com a SIDA, mostrando que as mulheres têm e iniciam mais o sexo do que se pensava.

Vejo donde Honwana vem. Mas também vejo aspectos menos encorajadores. Talvez seja Á  moda antiga e não posso aceitar que neste bravo Novo Mundo do Consumerismo capitalista o sexo, a intimidade e o corpo tornaram-se em mercadoria, como o sândalo e carvão.

Presentes de risco

No dia seguinte, o Ministro sul-africano da Saúde, Aaron Motsoaledi, que reverteu a resposta do seu paÁ­s ao SIDA depois da era de negação de Mbeki, disse Á  uma nação estupefacta que um-quarto das raparigas das escolas secundÁ¡rias eram seropositivas.

“Não são os jovens que dormem com estas raparigas. São velhos. Temos que assumir uma posição contra os tiozÁµes porque estão a destruir as nossas crianças,À disse. “Não podemos continuar a viver assim.À Ele parecia genuinamente angustiado.

De forma breve e mais tarde, oito pÁ¡ginas capÁ­tulo adentro, Honwana menciona o HIV como um risco no sexo transacional. Mas na África Austral, o HIV é um risco diÁ¡rio. O risco aumenta com parceiros múltiplos. E hÁ¡ pouco poder de negociação quando um parceiro detém um poder económico desigual.

Para além do risco do HIV, penso que o sexo transacional perpetua os padrÁµes tradicionais onde as mulheres progridem através do poder masculino e dinheiro masculino. Sexo feminino para troca e venda.

Sonho e trabalho para construir um mundo onde raparigas e rapazes tenham chances iguais de obter educação e emprego. Vejo mudanças. Para muitas raparigas, o mundo tornou-se num lugar de acção e escolha com relação Á  educação, empregos, estilo de vida e amor.

Mas para muitas outras, a sua sexualidade é um passaporte temporÁ¡rio ao mundo consumerista, um bilhete ao camarão e caipirinha debaixo do sol azul, na piscina da Indy, numa tarde quente e húmida de Maputo.

O sexo transcional empodera as mulheras? Diga-nos o que pensas.


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