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Numa recente tarde quente e húmida, na piscina da Indy Village, em Maputo, entraram quatro pessoas. Dois eram homens nos seus sessenta anos, carecas, com barrigas maiores que gravidezes de nove meses, e banhas de carne de cor de salmão emergindo dos fatos de banho. Duas eram mulheres dos seus 20 anos, elegantes e lindas, com uma perfeita pele de cor de canela e café.
A disparidade era óbvia. Este não era uma quarteto de avôs e netas. Eram dois tiozÁµes com as suas catorzinhas. Notei olhares de desaprovação dentre os utentes da piscina naquele SÁ¡bado. Algo estranho tinha se intrometido na previsÁvel cena de jovens famÁlias na piscina da Indy.
Coloquei o meu livro de lado, The Time of YouthÀ, uma observação da antropóloga moçambicana, Alcinda Honwana, sobre jovens em Moçambique, África do Sul, Senegal e Túnisa. Recomendo. Perceptivo e bem escrito, ampliou a minha compreensão de jovens com os quais me cruzo na rua, nas redacçÁµes À“ e nas piscinas.
Honwana descreve o crescent fenómeno de tiozÁµes e titias. Quando a educação é cara e empregos escassos, as raparigas À“ e em menos escala, rapazes À“ se engajam no sexo transacional, inter-geracional com parceiros mais velhos e ricos: sexo em troca de presentes e dinheiro, extensÁµes, roupas, crédito e celulares.
Muitas raparigas mantêm namorados da sua idade para prazer, e um ou vÁ¡rios tiozÁµes para rendimentos. Os namorados aceitam esse arranjo.
Honwana descreve isso como um fenómeno empoderador onde essas raparigas definem as suas identidades social e sexual, escolhem os seus parceiros e avaliam os riscos que correm.
“O sexo transacional é visto como uma estratégia através da qual são capazes de reverter a existente balança das relaçÁµes de género e poder e ganham acesso aos bens materiais e estilo de vida que simboliza a modernidade e sucesso,À escreveu.
Não estou certa de que o sexo transacional empodera as raparigas, embora veja como permita a acção sexual feminina À“ o segredo cujo nome não se podia dizer até ser desmascarado na última década por pesquisas relacionadas com a SIDA, mostrando que as mulheres têm e iniciam mais o sexo do que se pensava.
Vejo donde Honwana vem. Mas também vejo aspectos menos encorajadores. Talvez seja Á moda antiga e não posso aceitar que neste bravo Novo Mundo do Consumerismo capitalista o sexo, a intimidade e o corpo tornaram-se em mercadoria, como o sândalo e carvão.
Presentes de risco
No dia seguinte, o Ministro sul-africano da Saúde, Aaron Motsoaledi, que reverteu a resposta do seu paÁs ao SIDA depois da era de negação de Mbeki, disse Á uma nação estupefacta que um-quarto das raparigas das escolas secundÁ¡rias eram seropositivas.
“Não são os jovens que dormem com estas raparigas. São velhos. Temos que assumir uma posição contra os tiozÁµes porque estão a destruir as nossas crianças,À disse. “Não podemos continuar a viver assim.À Ele parecia genuinamente angustiado.
De forma breve e mais tarde, oito pÁ¡ginas capÁtulo adentro, Honwana menciona o HIV como um risco no sexo transacional. Mas na África Austral, o HIV é um risco diÁ¡rio. O risco aumenta com parceiros múltiplos. E hÁ¡ pouco poder de negociação quando um parceiro detém um poder económico desigual.
Para além do risco do HIV, penso que o sexo transacional perpetua os padrÁµes tradicionais onde as mulheres progridem através do poder masculino e dinheiro masculino. Sexo feminino para troca e venda.
Sonho e trabalho para construir um mundo onde raparigas e rapazes tenham chances iguais de obter educação e emprego. Vejo mudanças. Para muitas raparigas, o mundo tornou-se num lugar de acção e escolha com relação Á educação, empregos, estilo de vida e amor.
Mas para muitas outras, a sua sexualidade é um passaporte temporÁ¡rio ao mundo consumerista, um bilhete ao camarão e caipirinha debaixo do sol azul, na piscina da Indy, numa tarde quente e húmida de Maputo.
O sexo transcional empodera as mulheras? Diga-nos o que pensas.
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