Mozambique: As questões culturais são um grande entrave para a equidade de género


Date: July 24, 2018
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O primeiro encontro entre o Municipio da Massinga e a Gender Links foi no ano de 2013, onde participei de uma formação em matéria de género, que contemplava os funcionários do município. Ao todo foram duas cimeiras, e duas formações que ocorreram no distrito da Massinga. Em 2016 começamos a adopção dos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio, na formação sobre combate aos casamentos prematuros, promovida pela Gender Links e o Ministério do Género, Criança e Acção Social.

As formações abrangiam a inserção da componente Saúde Sexual e Reprodutiva. Numa das palestras sobre casamentos prematuros e saúde sexual e reprodutiva, incluímos uma enfermeira e um membro da polícia para se debruçar sobre a questão da violência baseada no género. A única mudança que registei depois do Gender Links, foi a inserção do debate de género nas comunidades.

Antes de me aprofundar sobre as questões de género, achava que deveria ter a última palavra em casa, mas hoje já não tenho a última palavra em casa. Opto por um consenso. O diálogo traz mais benefícios a nós, que decisões tomadas unilateralmente.

Experiências positivas

Em 2017 realizamos uma formação com alunos e activistas. Esse momento foi marcante porque estávamos num ambiente não muito regrado, onde estavam a vontade e mostraram que muitos coisas acontecem por negligência própria. Eles reconheceram ter informação sobre os métodos de prevenção de gravidez precoce e infecção por doenças de transmissão sexual, mas que não acatam por negligência.

Nesse momento estamos a tentar compreender o que está a acontecer para que os adolescentes não cumpram com as recomendações na íntegra. A partir daí, poderemos traçar estratégias para reverter o actual cenário.

Experiências negativas

Numa das nossas formações fiquei espantado com a forma de pensar que ainda persistem em algumas pessoas. Um senhor que ja tem 2 esposas, orgulhava-se dizendo que pretendia esposar uma terceira e quiçá quarta. Nesse momento, questionei-me sobre o nível de liberdade dessas mulheres. Se elas eram realmente capazes de opinar e fazer suas próprias escolhas.

Nao participo das formações sozinho, tenho participado com o presidente, que por acaso é uma pessoa muito sensível às questões de género e valoriza a opinião. Não posso dizer que o pessoal esteja 50/50, mas a tendência é de equilibrio.

As questões culturais ainda pesam muito para a aceitação do debate sobre o equilíbrio de género nas comunidades. Na minha família o debate sobre as questões de género existe, mas nem todas as pessoas acatam com o que se discute, são renitentes e praticam actos nocivos. Os mais abertos aceitam o debate e acatam com o que se discute no seio familiar. Os principais desafios que temos enfrentado são a prática da poligamia e dos casamentos prematuros, onde os principais actores são os praticantes da medicina tadicional e os agentes económicos.

Para ultrapassar os desafios encontrados na comunidade decidimos apostar no trabalho com a camada adolescente e juvenil, então lançamos um concurso de redacção sobre saúde sexual e reprodutiva e violência baseada no género em 3 escolas da comunidade. O objectivo é consciencializar os mais jovens e aferir a sua percepção acerca dos temas que são expostos durante as palestras. Para incentivar os outros, eles serão premeiados com os kits que a Gender links ofereceu-nos. Para alem disso, os melhores serão os nossos intermediários nas escolas e na comunidade, porque acreditamos que quando as pessoas conversam na mesma faixa etária, entendem-se melhor. A indicação e a premeiação será feita com base em votação.

A Gender Links deve começar a apostar no trabalho com os técnicos, pois estes amanhã poderão passar o testemunho do trabalho para os outros, e assim dar continuidade do trabalho, diferente dos membros do conselho que são passageiros e levam todo o conhecimento consigo.

 

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