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Nova Iorque, 7 de Março de 2013 À“ Embora o trabalho da polÁcia seja um elemento crucial na luta contra a violência baseada no género, quase que não aparece reflectido nas discussÁµes da sociedade civil presente na 57 ª Sessão da Comissão das NaçÁµes Unidas sobre o Estatuto das Mulheres (CSW 57).
Um olhar sobre o programa de uma semana só mostra um único evento em que se fala directa e claramente sobre o envolvimento da polÁcia. Se falou-se do trabalho da polÁcia, foi como uma nota de rodapé.
A ausência de eventos visando discutir os serviços que a polÁcia presta, por exemplo, Á s vÁtimas de violência baseada no género é algo um pouco estranho. Afinal, é a polÁcia que é responsÁ¡vel por investigar casos de violência baseada no género e violência doméstica.
Sem investigação policial adequada, os casos de violência não podem chegar aos tribunais. A juÁza moçambicana, Osvalda Joana, disse que “enquanto juÁza apenas chegaram-me poucos casos de violação sexual.À
Isso pode se dever Á dois ou três factores: a polÁcia instrui mal o processo e o juÁzo de instrução devolve-o, não chegando a ser julgado; a polÁcia age com negligência, sendo que, a vÁtima acaba desistindo de prosseguir com o caso; ou as próprias vÁtimas não chegam a participar os casos Á polÁcia.
Mas as conversas nos bastidores são de que a polÁcia acaba não agindo adequadamente por negligência. Parece que no seio da polÁcia, existe uma cultura institucional que faz com que ela não actue de forma célere e decisiva na solução de casos de violência baseada no género.
A polÁcia acaba ela própria perpetuando e fortalecendo as estruturas do patriarcado. Invariavelmente, quando uma mulher apresenta queixa junto Á s autoridades policiais contra o parceiro, Á s vezes a polÁcia aconselha-a a resolver o assunto em casa.
Mas o que é mais grave, é o facto de que a polÁcia parece exÁmia em manipular tanto as organizaçÁµes da sociedade civil como a comunidade internacional. Isto é, na senda da implementação dos direitos humanos da mulher, a polÁcia também se compromete a observar os vÁ¡rios instrumentos legais internacionais, regionais e nacionais que visem a promoção da justiça do género.
Mas cresce a percepção de que provavelmente a polÁcia se diz comprometida apenas para o inglês ver. Em Moçambique, por exemplo, as organizaçÁµes que trabalham na Á¡rea do género e que pela natureza do seu trabalho contam com a colaboração da polÁcia, têm amiúde reclamado de que gastam recursos treinando agentes da polÁcia que possam lidar com vÁtimas de violência baseada no género.
Todavia, acontece que frequentemente o recém-formado agente da polÁcia é transferido para uma outra unidade que não tem nada a ver com a formação sobre o género que recebeu. Quando ´agente é transferido, treina-se um outro polÁcia e o ciclo vicioso se completa: formação-transferência-formação.
Esta é uma demonstração inequÁvoca de que as chefias da polÁcia não parecem estar comprometidas com a promoção da igualdade e equidade do género, para não falar sobre a luta para eliminação da violência baseada no género.
Obviamente que se pode argumentar que essa formação, seguida de transferência, é boa porque as outras unidades podem passar a contar com polÁcias formados em matéria de género. Mas esse argumento é fraco na medida em que essas outras unidades não parecem ficar ricas porque tem agentes formados em questÁµes de género.
Esse comportamento policial é uma violação do Protocolo da SADC sobre Género e Desenvolvimento, por exemplo. O texto lê que “os estados membro deverão decretar medidas legislativas e outras tendentes a promover e a garantir a realização prÁ¡tica da igualdade da mulher.À
Ademais, o Protocolo acrescenta que os estados membro devem assegurar a administração da justiça e do competente processo a favor das vÁtimas e sobreviventes da violência baseada no género, de modo a assegurar a dignidade, proteção e respeito.
Eventos como as sessÁµes da CSW devem abrir espaço para que se discuta os serviços da polÁcia porque caso contrÁ¡rio, estar-se-Á¡ a pregar para os convertidos. Sendo que, a polÁcia deve mudar a sua cultura institucional para poder estar muito próximo das vÁtimas da violência baseada no género, e não afastÁ¡-las.
Bayano Valy é o Editor do Serviço Lusófono da Gender Links. Este artigo faz parte da cobertura especial da GL da CSW 57
📝Read the emotional article by @nokwe_mnomiya, with a personal plea: 🇿🇦Breaking the cycle of violence!https://t.co/6kPcu2Whwm pic.twitter.com/d60tsBqJwx
— Gender Links (@GenderLinks) December 17, 2024
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