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Maputo, 04 de Agosto: O relatório do Programa Conjunto das NaçÁµes Unidas contra o HIV/SIDA (ONUSIDA) coloca Moçambique no quinto lugar, na lista dos 15 paÁses mais infectados no mundo.
Os dados lançados pelas NaçÁµes Unidas, são uma forte barreira nos esforços de Moçambique, na luta contra a estigmatização e discriminação de pessoas vivendo com o HIV/SIDA, em particular as mulheres que, regra geral, são a cara da epidemia, em África.
E, para aferir o peso do estigma Á¡ volta da epidemia na sociedade moçambicana, a nossa reportagem foi ao encontro de algumas associaçÁµes que congregam pessoas que vivem com o HIV/SIDA.
Na Associação Timane, sediada no Bairro Kongolote, no MunicÁpio da Matola, hÁ¡ 12 quilometros da cidade capital do paÁs, que congrega 130 membros procuramos conhecer o dia-a-dia da agremiação na luta contra o estigma.
Segundo apuramos, de um tempo para cÁ¡, aquela associação estÁ¡ a registar cada vez um número crescente de doentes que abandonam ao tratamento anti-retroviral, devido ao impacto negativo da estigmatização que ainda abunda na sociedade moçambicana.
As nossas fontes indicam por outro lado que a descriminação não só ocorre nos seus respectivos postos de trabalho, como também na famÁlia, nos locais de residência e nas unidades sanitÁ¡rias onde frequentam Á busca do alÁvio do seu sofrimento.
Apesar dos esforços desenvolvidos pela associação, para sensibilizar os doentes sobre a importância do tratamento e da necessidade de vencerem a estigmatização e a marginalização, os resultados ainda estão muita aquém das suas expectativas.
O estigma, a marginalização e a descriminação, contribuem significativamente para o abandono dos doentes, situação que afecta também Á famÁlia, os amigos e outras pessoas próximas ao doente.
Adelaide João de 32 anos, mãe de três filhos disse que soube do seu estado serológico, na última gravidez, e viu-se obrigada a contar ao seu marido, que não acolheu a notÁcia com bons olhos.
“VivÁamos em Inhambane com o meu marido que expulsou-me de casa, quando soube do meu estado. Regressei a Maputo, na casa dos meus pais, onde por falta de coragem não contei aos meus irmãos sobre a minha doença.
Sem este importante suporte familiar tive de abandonar o tratamento, o que me causou uma recaÁda que agravou o meu estado de saúde”, explicou.
Algum tempo depois a uma das suas irmãs, por sinal a mais nova, soube do seu estado de saúde e tratou de convencê-la a retomar a medicação.
Mais tarde, para garantir o sustento dos filhos então, rejeitados pelo pai, aceitou o emprego de empregada doméstica onde, pouco tempo depois viu-se expulsa pelos seis patrÁµes logo que tiveram rumores sobre a sua seroprevalência, através da toma regular dos anti-retrovirais.
Adelaide disse que a justificação sobre a sua expulsão estÁ¡ relacionada com a perca de confiança nela, por não se ter declarado, voluntariamente, que vivia com o HIV/SIDA, algo agravado pelo facto de que ela é quem cuidava das crianças dos seus patrÁµes.
Maimuna Faustino, de 36 anos, que vive com o HIV carrega consigo o vÁrus do HIV, viu-se na contingência de ter de abandonar o tratamento por recear o estigma no seio familiar e nos hospitais.
Maimuna disse que quando descobriu o seu estado serológico, porque estava gravida, começou o tratamento vertical longe do bairro para salvaguardar a sua honra e bom nome perante a vizinhança.
A consequência imediata desta decisão foi a mudança radical na sua dieta alimentar, para poder contrabalançar na toma dos medicamentos.
António Paindane técnico de saúde e responsÁ¡vel pela Á¡rea de HIV/SIDA, no hospital de Nhlavela disse que algumas pessoas abandonam o tratamento anti-retroviral por falta de uma alimentação equilibrada e saudÁ¡vel, havendo por outro lado, aqueles que temem ser vistos por vizinhos, na fila de levantamento de medicamentos, na unidade sanitÁ¡ria e ainda, aqueles que desistem do tratamento, pelo simples facto de viverem muito longe da unidade sanitÁ¡ria.
Aquele agente de saúde frisou que em 2012 mais de 94 pessoas abandonaram o tratamento anti-retrovitral um acto que deita por terra, todos os esforços das unidades sanitÁ¡rias e das associaçÁµes de pessoas vivendo com o HIV/SIDA, na contenção do impacto da pandemia.
De acordo com a fundamentação da lei 5/2002, a pandemia do HIV/SIDA e os esforços para a contenção do impacto da doença na sociedade, são uma ameaça ao exercÁcio dos direitos fundamentais do cidadão, Á harmonia social e ao desenvolvimento do paÁs.
ImpÁµe-se, pois, a tomada de medidas apropriadas em prol da prevenção da exclusão, da estigmatização, da descriminação e da protecção social e emocional das pessoas vivendo com HIV através de acçÁµes tais como; educação, informação sensibilização e assistência sanitÁ¡ria.
O director nacional de Saúde Públia, no Ministério da Saúde, Francisco Mbofana considera que o relatório da ONUSIDA mostra que, de facto, Moçambique estÁ¡ entre os paÁses com elevado Ándice de prevalência do HIV/SIDA, que sugere uma forte intervenção do governo e da Sociedade Civil moçambicana.
Em 2009, os dados estatÁsticos indicavam que 11.5% de moçambicanos, na faixa de 15 aos 49 anos estavam a viver com o vÁrus de HIV/SIDA.
No que tange Á luta contra a estigmatização, o director nacional da saúde avançou que quando o governo tomou a iniciativa de abolir os hospitais dia tinha em vista, precisamente acabar com esta situação.
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