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Nova Iorque, 5 de Março de 2013 À“ O mundo continua a cometer graves erros na colecta de dados estatÁsticos, principalmente os números sobre pessoas portadoras de deficiências.
Dados estatÁsticos das NaçÁµes Unidas indicam que pessoas portadoras de deficiência perfazem dez porcento da população mundial, ou seja, cerca de 650 milhÁµes. E tristemente, o grosso, por aÁ 80 porcento, vive nos paÁses em desenvolvimento. Estima-se que na África Austral a população de portadores de deficiência alcance os 12 porcento da população regional.
Provavelmente, as pessoas portadoras de deficiência são as mais pobres e mais excluÁdas como um grupo populacional, particularmente as mulheres, mas por alguma razão parecem não atrair o mesmo nÁvel de atenção dos governos, da comunidade doadora, da sociedade civil e comunicação social.
Contudo esses dados não contam toda a história. É que os dados apenas falam de pessoas portadoras de deficiência mas não dizem se são homens, mulheres e/ou crianças.
“Quando colectas dados estatÁsticos, se contas apenas pessoas portadoras de deficiência, e não contas separadamente mulheres portadoras de deficiência de homens portadores de deficiência não tens como dizer que esta proporção é de mulheres e esta é de homens. Sendo que, não desenvolves os serviços adequados para satisfazer as necessidades das pessoas porque os dois grupos são diferentes,À disse Sharon Daniels da organização britânica Judith Trust.
O mesmo aplica-se Á crianças portadoras de deficiência. Por exemplo, uma rapariga portadora de deficiência pode ser discriminada com relação Á um rapaz portador de deficiência.
Sendo que, urge que os dados estatÁsticos sobre pessoas portadoras de deficiência sejam desagregados, segundo as organizaçÁµes da sociedade civil que trabalham com portadores de deficiência. A prioridade é de desagregar os dados com base no sexo.
Isto é importante na medida em que os dados baseados no género tornam mais clara a situação a que os homens e mulheres são votados e podem ser uma importante contribuição para a elaboração de polÁticas visando este grupo populacional, sobretudo no tocante ao fornecimento de serviços.
Dados estatÁsticos desagregados podem ser usados para mostrar se as pessoas portadoras de deficiência têm ou não acesso Á educação e emprego; qual é o fardo extra que mulheres portadoras de deficiência carregam; as ligaçÁµes entre deficiência, pobreza, género, vulnerabilidade, abuso sexual, HIV e SIDA, entre outros.
Começando das NaçÁµes Unidas, é preciso que se altere a forma como os dados são colectados para responder Á solicitação. Se assim não for, não se pode saber que proporção de mulheres portadoras de deficiência, por exemplo, tem acesso aos seus direitos humanos.
A Comissão sobre a Eliminação da Discriminação Contra Mulheres (CEDAW) recomendou aos estados membro a fornecer informação sobre mulheres portadoras de deficiência nos seus relatórios periódicos, e sobre medidas tomadas para lidar com a sua situação especÁfica, de modo a que tenham igual acesso Á educação e emprego, serviços de saúde e segurança social, para além de participarem em todas as Á¡reas da vida social e cultural.
Esta recomendação é suportada na região pelo Artigo 9 constante do Protocolo da SADC sobre Género e Desenvolvimento que os estados membro devem adoptar legislação e medidas afins no sentido de proteger pessoas portadoras de deficiência, que tenham em conta as suas vulnerabilidades peculiares.
No entanto, o Barómetro do Protocolo da SADC sobre Género e Desenvolvimento, uma publicação da Gender Links que visa medir o grau de implementação do Protocolo do Género pelos estados membro, parece silencioso com relação a este ponto, tornando difÁcil aferir se a região estÁ¡ a progredir ou regredir com relação Á provisão de serviços para pessoas portadoras de deficiências, sobretudo mulheres e crianças.
O silêncio pode ser o reflexo da falta de desagregação dos dados estatÁsticos sobre pessoas portadoras de deficiência, especialmente mulheres portadoras de deficiência. Talvez uma das razÁµes para que não se desagregue os dados estatÁsticos sobre pessoas portadoras de deficiência prende-se com o facto de não se falar de deficiência e o género, isto é, incorporar o género Á deficiência. Esta situação pode indubitavelmente resultar na falta de elaboração de polÁticas visando empoderar o grupo, bem como fornecer serviços e educação.
Mesmo os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), que estabelecem um conjunto de objectivos de desenvolvimento para a comunidade global, são mudas no que tange as pessoas portadoras de deficiência. Portanto, se polÁticas, programas, monitoria e avaliação não incluÁrem pessoas portadoras de deficiência, vai ser difÁcil que se alcance os ODM.
Sendo que, a região da SADC deve mostrar o caminho para o resto do mundo, começando a produzir dados desagregados sobre a deficiência e portadores de deficiência, principalmente mulheres, sob o risco deste grupo populacional continuar a ser o mais marginalizado na sociedade.
Bayano Valy é o Editor do Serviço Lusófono da Gender Links. Este artigo faz parte da cobertura especial da GL da CSW 57
Comment on Internacional: Portadores de deficiência reclamam desagregação de estatÁsticas por sexo