CSW59: Género, mÁ­dia e comunicação são intrÁ­nsecos a quem somos!

CSW59: Género, mÁ­dia e comunicação são intrÁ­nsecos a quem somos!


Date: March 15, 2015
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Nova Iorque, 15 de Março: HÁ¡ vinte anos atrÁ¡s, eu era uma jovem jornalista que trabalhava para o Serviço Feminino de Feature, com sede em Nova Dehli, onde produzia um jornal diÁ¡rio em Pequim. Não tÁ­nhamos E-Mail. TÁ­nhamos que ir de autocarro de Hourou preencher cerca de três horas de distância, para a principal reunião da ONU, para de lÁ¡ enviarmos as nossas notÁ­cias e reportagens. Na época havia conservadores prontos para desvalorizar os frÁ¡geis ganhos das mulheres. Hoje, pode-se dizer, tanta coisa mudou, mas muito continua na mesma!

Agora vivemos no mundo do correio eletrónico (E-mail), nos comunicamos com a velocidade da luz. A revolução da informação nos engole. Temos acesso a mais informaçÁµes do que nunca. Mas serÁ¡ que temos mais sabedoria? Eis a questão.

Enquanto escrevo estas palavras, forças regressivas em Nova Iorque continuam a trabalhar arduamente para reverter nossos ganhos frÁ¡geis. Uma das conquistas, ainda que frÁ¡gil, por exemplo, é a Secção J da Plataforma de Acção de Pequim – mÁ­dia e comunicação.

Por razÁµes que não consigo entender, os meios de comunicação e as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) estão aquém dos Objectivos de Desenvolvimento SustentÁ¡vel de 2015 a 2030. O género e os meios de comunicação estão invisÁ­vel no plano de acção dos ODS.

O Projecto de Monitoramento Global da MÁ­dia (GMMP) tem vindo a fazer seguimento Á s notÁ­cias em todo o mundo, pelo menos, um dia a cada cinco anos, desde 1995. O estudo mostrou que as fontes femininas (seus pontos de vista e voz) aumentaram de apenas, 7 pontos percentuais, tendo saÁ­do de 17% para 24% na última verificação. Isto é deveras preocupantes se atendermos que as mulheres constituem mais da metade da população mundial, contra menos de um quarto das pessoas, cujos pontos de vista e voz, são ouvidas.

Por aqui fica claro, salvo melhor explicação, que as mulheres são simplesmente silenciadas todos os dias pela mÁ­dia. Agnes Callamard, directora executiva do Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos que promove a liberdade de expressão no mundo, tornou-se muito impopular na Fleet Street, quando durante o lançamento da GMMP de 2010, ela declarou que a mÁ­dia pratica um tipo de censura silenciosa.

MÁ­dia ocidental? Censura? Sim, a censura.

O que mais podemos chamar a este tipo de fórum lateral sistemÁ¡tico e os estereótipos das mulheres nos meios de comunicação social?

A cada 8 de Março, a UNESCO promove a campanha – Mulheres Fazem a NotÁ­cia. Pelo menos, nesse dia do ano, a mÁ­dia é chamada a permitir que as mulheres planeiem, produzam e comercializem a notÁ­cia do ponto de vista de uma mulher. Uma década depois, a Gender Links continua a prosseguir os ideais que nortearam a criação desta campanha. Como activistas deste fórum em prol da mulher a Gender Link desafia editores do sexo masculino a “tirar pelo menos, na última pÁ¡gina” pin-ups de mulheres magras, louras, de olhos azuis que mal representam a maioria das nossas mulheres, para além de celebrar as mulheres em toda a sua diversidade – preta, branca, marrom, alta, baixa, gorda, magra e, em todos os seus tons de beleza, o que quer que essa palavra possa significar.

Eu e a minha vice-directora fomos vilipendiadas pela grande mÁ­dia mampara (idiota) da semana, ao sermos chamadas de “as lésbicas que não conseguem arranjar maridosÀ.

Enquanto isso, fomos surpreendidas pelo Jornal Sunday Times ao colunar, através do punho duma mulher; “Mãe Hubbard precisava de ter uma vida!À.

Pela primeira vez na minha vida eu tive que trazer para fora o meu CV pessoal para justificar a minha voz no espaço público. Eu indiquei que tinha um grau de mestrado em Comunicação pela Universidade de Columbia (um dos mais prestigiados nos cÁ­rculos de mÁ­dia); que era bem casada; que tinha duas filhas para quem eu desejava o mundo numa bandeja de prata.

Salientei que dar voz igual a homens e mulheres e celebrar as mulheres em toda a sua diversidade é tão bÁ¡sico quanto o Jornalismo 101, onde aprendi a obter todas as opiniÁµes relevantes sobre qualquer história; dar voz aos que não têm voz; desafiar os estereótipos; buscar o que é novo, o que é diferente: definir a agenda para o futuro.

Estes são alguns argumentos que estÁ¡ a ganhar terreno, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. Os activistas de género e mÁ­dia seguem duas estratégias amplas desde Pequim:

– Fazer a nossa própria mÁ­dia: A revolução das Tecnologias de Informação (TI) trouxe consigo muitos vÁ­cios, muitas divisÁµes adicionais e novas formas de violência de género. No entanto, é um espaço aberto que também podemos reclamar. Na GL promovemos um programa chamado “Fazer as TI funcionar para a Justiça do Género”.

A Internet veio para ficar. Se não entramos na auto-estrada, ela vai passar por nós. Cada vez mais vivemos no mundo do jornalista cidadão. A primeira pessoa na cena não é a mÁ­dia, mas o povo À“ testemunho disso, por exemplo, é a primavera Á¡rabe. Nós podemos fazer e captar notÁ­cias através dos nossos celulares. Podemos e devemos contar nossas próprias histórias. Devemos tecer nossa própria narrativa através das mÁ­dias alternativas abertas para nós.

– Alterar a grande mÁ­dia a partir de dentro: O domÁ­nio e a influência da grande mÁ­dia é sem dúvida. Na GL temos um lema que diz: “Não fique com raiva, seja astuto.” A MÁ­dia é um negócio. As mulheres constituem 52% dos consumidores de notÁ­cias, um facto que os barÁµes da mÁ­dia estão lentamente a perceber. Cegueira em assuntos sobre género não é um bom negócio.

Por exemplo, durante a Copa do Mundo de Futebol, verificou-se que os anunciantes erraram no alvo quando direccionaram a maior parte da sua publicidade para os homens, mas as mulheres constituÁ­am 40% das pessoas que assistiam aos jogos! Sabemos, a partir do nosso trabalho com 100 instituiçÁµes de mÁ­dia em toda a África do Sul que se elegeram Centros de Excelência para o Género na Comunicação Social e que desenvolvem polÁ­ticas de género, trabalham com barÁµes e lÁ­deres da mÁ­dia, formam jornalistas, tiram as viseiras de género À“ todas estas acçÁµes combinadas podem resultar na mudança.

Sabemos também que as casas de mÁ­dia que optaram por reconhecer a existência de mulheres dentro e através dos meios de comunicação social têm colhidos os benefÁ­cios que resultam da resposta de género.

Um dos desenvolvimentos mais promissores nos últimos dois anos é a Aliança Global de MÁ­dia e Género (GAMAG) À“ que congrega mais de 500 organizaçÁµes em todo o mundo – unidas sob os auspÁ­cios da UNESCO para dizer: basta!

A aliança inclui as principais associaçÁµes de radiodifusão, instituiçÁµes de formação da mÁ­dia, sindicatos de jornalistas, federaçÁµes de comunicação das mulheres, instituiçÁµes de pesquisa e advocacia.

A GAMAG apela a inclusão nos ODS, de uma meta sobre mÁ­dia e TICs e suas dimensÁµes de género. Em paralelo, também estamos a exigir uma meta independente de género e meios de comunicação sob a meta cinco – a igualdade de género. Exigimos igualmente que os indicadores sobre a liberdade de expressão na meta 16 incluam indicadores sobre género.

Permitam-me partilhar este pensamento:

– “… Quando uma criança nasce, como é que sabemos que ela estÁ¡ viva? Esperamos pelo primeiro choro! Qual é a pergunta mais próxima que fazemos: É menino, ou menina? Género, meios de comunicação, voz, comunicação, estes são absolutamente intrÁ­nsecos ao que somos. Estas não são questÁµes laterais que podemos resolver “a propósito” na corrida até 2030. Se tivéssemos que “desmantelar o patriarcado ao longo dos próximos 15 anos”, para citar o Director Executivo da ONU Mulheres, Dr. ª Phumzile Mlambo-Ngcuka, o farÁ­amos tão bem, trazendo a Secção J, certamente para o centro dos nossos debates aqui em Nova Iorque.

Colleen Lowe Morna é a PCA da Gender Links e Presidente de GAMAG.

Esta peça é extrato da sua declaração numa sessão da CSW59 chamada, “Mulheres e Imprensa: Avançando a Área CrÁ­tica de Preocupação J * da Declaração de Pequim e a Plataforma de Acção”, realizada na sede da ONU na 5 ª. Feira, 12 de Março. Este artigo faz parte do Serviço de Noticias da Gender Links NotÁ­cias na cobertura especial da CSW59 que se realiza na sede da ONU em Nova Iorque, trazendo-lhe novas ideias sobre as notÁ­cias de todos os dias.

 


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