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Eu sou uma menina de 12 anos. Vivo com os meus três irmãos no Bairro da Liberdade. Podem não acreditar mas sou a actual chefe de famÁlia e para a nossa sobrevivência vendo tomate e cebola aos montinhos.
Perdemos o nosso pai hÁ¡ dois anos. Nossa mãe faleceu seis meses depois do nosso pai. Ela começou a adoecer logo depois do falecimento do papÁ¡, e como a doença dela piorava e minha avó teve que a levar para o hospital.
Enquanto isso, tÁnhamos que vender alguns bens para pagarmos as suas despesas hospitalares. Primeiro vendemos todos os cabritos que tÁnhamos, e como não melhorava, meu tio, irmão do meu pai, veio pegar na motorizada do meu falecido pai para pagar as despesas hospitalares e a matrÁcula do meu irmão mais novo. Infelizmente, a minha mãe piorou e acabou falecendo.
Depois das cerimónias fúnebres, meu tio voltou e veio buscar todas as maquinetas de soldar e de carpintaria que meu falecido pai usava, dizendo que nós éramos crianças e não saberÁamos usÁ¡-las.
A nossa avó materna ainda tentou defender-nos mas sem sucessos porque o meu tio disse que as maquinetas pertenciam ao seu falecido irmão, e que minha mãe não tinha vindo com nada da casa dos seus pais.
Eu jÁ¡ parei de estudar e tenho que fazer este pequeno negócio para zelar e dar de comer aos meus irmãos, incluindo a pequena Rute, de dois anos, que também é doentia.
Nós éramos uma famÁlia que estava minimamente preparada mas hoje quase que não temos nada para comer.
Esta estória faz parte da série das Estórias “Eu” produzidas pelo Serviço Lusófono de Opinião e ComentÁ¡rio da Gender Links para o 16 Dias de Activismo sobre Violência Baseada no Género.
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