Mozambique:Lidando com casos de violência doméstica


Date: November 28, 2012
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Eu ingressei nas fileiras da PolÁ­cia em 2007 como operativa/patrulheira. Em 2009, tive a oportunidade de fazer uma capacitação durante um mês e meio, que me permitiu começar a trabalhar no gabinete de atendimento da mulher e criança vÁ­timas de violência doméstica, no municÁ­pio da vila de Namaacha.

A minha tarefa consiste em receber e atender as pessoas que vêm para a esquadra a procura de ajuda em casos de violência doméstica e violência baseada no género. Converso com as mesmas para entender a sua situação antes de abrir o auto. Recebo semanalmente mais ou menos cinco pessoas.

Apesar de achar que o trabalho que faço é bom para a sociedade, hÁ¡ dias em que fico desesperada com a natureza humana. Um dia uma jovem moça veio Á  esquadra reportar que tinha um casal de gémeos cujo pai não queria assumir com as suas despesas. O problema parece ter começado quando a moça contraiu tuberculose e teve que deixar os gémeos com o pai porque tinha que ser internada para fazer tratamento.

Nem mais, o pai dos gémeos levou-os Á  Ação Social alegando que não tinha condiçÁµes de cuidar deles. A mãe só descobriu da sua atitude quando foi chamada para dar a sua autorização para a efectivação do processo. Ela recusou-se a entregar as crianças Á  Acção Social.

Seguiram-se diversas tentativas de conversas no sentido de se encontrar um desfecho que agradasse ambas as partes sem sucessos. O que aconteceu foi o rapaz ter decidido não pagar a pensão das crianças; e jÁ¡ passam dois meses.

Mas hÁ¡ dias em que sinto orgulho do meu trabalho porque existem também finais felizes, e isso dÁ¡-me mais vontade de continuar a fazer o que faço.

Uma das melhores experiências que tive foi com um casal mais adulto. A esposa visitou o Gabinete de Atendimento Á  Mulher porque andava triste com o marido. Ela acreditava que o marido a traÁ­a com uma outra mulher porque o seu comportamento em relação Á  ela havia mudado. JÁ¡ não era carinhoso e estava sempre a arrumar confusão.

Ela não veio ao gabinete para fazer queixa como é habitual. Apenas veio porque precisava de conversar com alguém, e precisava de ajuda e apoio moral para superar a situação. O marido foi notificado e ele compareceu para o diÁ¡logo. Por sorte, negou estar envolvido com outra mulher, tendo aceite que apenas havia mudado o seu comportamento com relação Á  esposa porque ela jÁ¡ não era a mulher por quem se apaixonara e que havia mudado.

Aconselhei ao casal para se lembrar do seu namoro; do sentimento que os fizera apaixonarem-se um pelo outro, e recuperarem a amizade que um dia os uniu. E sobretudo pensarem nos seus três filhos.

Um mês depois a senhora voltou ao gabinete para me informar que ela e o marido tinham analisado os seus problemas, e os dois haviam mudado de comportamento para o bem da famÁ­lia. E agradeceu o apoio que recebeu do gabinete.

Recomendo aos casais que têm problemas que arranjem formas de os solucionar através do diÁ¡logo sem recorrer a violência.

Esta estória faz parte da série das Estórias “Eu” produzidas pelo Serviço Lusófono de Opinião e ComentÁ¡rio da Gender Links para o 16 Dias de Activismo sobre Violência Baseada no Género.

 


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