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Michigan, 28 de novembro: “… Uma em cada três mulheres poderÁ¡ ser espancada, estuprada ou abusada durante o seu ciclo de vida…À À“ alertam as NaçÁµes Unidas que apontam a Violência Baseada no Género (VBG) um problema global e com proporçÁµes pandémicas. As NaçÁµes Unidas referem ainda que na presente conjuntura no mundo, pelo menos, um bilião de mulheres estão directa ou indirectamente afectadas pela violência de género. Os casos de violência baseada no género, sejam eles do tipo interpessoal, colectiva ou auto-dirigido, são na sua maioria, praticados por homens contra mulheres, de acordo com a Organização Mundial da Saúde À“ OMS.
Um Estudo de Indicadores da VBG, realizado pela Gender Links em seis paÁses da África Austral, revela que a forma mais predominante de VBG perpetrada por homens contra as mulheres ocorre no âmbito de parcerias Ántimas. Por exemplo assim foi a frequência em 90 por cento dos distritos da Zâmbia abrangidos pelo estudo, enquanto nas MaurÁcias a amostra situou-se numa incidência de 23 por cento. Os homens entrevistados também confirmam estes números e em alguns casos, os números são ainda superiores. Com efeito 73% de homens na Zâmbia e 22% nas MaurÁcias admitiram ter perpetrado a violência de género, pelo menos, uma vez na sua vida. Nos seis paÁses da Á¡frica austral o número de homens que admitiram ter estuprado uma mulher é significativamente maior do que as mulheres que relataram ter passado por esta experiência na sua vida.
Este quadro estatÁstico sombrio, com carÁ¡cter urgente, nos remete a uma abordagem multifacetada tendo no seu epicentro o homem daÁ, a necessidade do seu envolvimento na estratégia para combater a violência de género. O estudo da GL revela ainda que os homens abusados na sua infância são os mais propensos a praticar a violência contra as suas parceiras e mais de uma vez. O estudo conclui que a misoginia, ou seja, a aversão pelas mulheres e a violência masculina, são um comportamento social assimilado e replicado em casa, na escola, nos meios de comunicação social e nas diferentes culturas da sociedade moderna.
O uso da violência de género é, geralmente, uma afirmação de “normas” de género e uma forma de masculinidade sexista que os homens internacionalizaram. É parte de uma estrutura enraizada de poder patriarcal em que os homens, especialmente aqueles com mais poder, usam a violência para subjugar as mulheres, as raparigas e outros homens.
No recente lançamento da campanha He4She (He For She) À“ numa tradução livre, “Ele por ElaÀ), promovida pela ONU Mulheres, a Embaixadora de Boa Vontade deste organismo do sistema nas NaçÁµes Unidas, Emma Watson, num seu empolgante discurso convidou os homens a intensificar a sua participação e contribuição em prol do avanço da agenda mundial Á favor da igualdade de género. Ao olho de analistas, apesar da pertinência do enfoque ao discurso de Watson faltaram os passos crÁticos e prÁ¡ticos que os homens precisam de dar, como sua contribuição na promoção de comunidades mais saudÁ¡veis, mais seguras e mais iguais. No momento, a palavra de ordem é garantir que os governos e as comunidades junto mudem a forma de educar e socializar os rapazes e as raparigas. Os homens são também chamados a fazer lobbies junto aos decisores polÁticos para incorporação de estudos de género nos currÁculos das escolas primÁ¡rias e secundÁ¡rias. Igualmente, os homens devem ser encorajados desde cedo a se tornar defensores activos da igualdade de género.
Muitas organizaçÁµes e sectores da sociedade civil estão a realizar esforços concertados para envolver os homens nas suas estratégias para erradicar a VBG e a desigualdade de género, ao mesmo tempo que encorajam os homens a serem pro-activos na luta para acabar com o sexismo e a violência contra as mulheres nas suas comunidades.
Exemplos do género chegam-nos dos Estados Unidos, onde as organizaçÁµes cÁvicas tais como “A Call to Men and The Men Can Stop RapeÀ (MCSR) treinam e educam homens e rapazes com o objectivo de mudar as normas negativas de género e desenvolver uma definição mais saudÁ¡vel de masculinidade. Eles acreditam que a prevenção da violência doméstica e sexual é essencialmente da responsabilidade dos homens. Na África Austral hÁ¡ muitas organizaçÁµes que fazem o mesmo trabalho, um dos exemplos é da “Men as PartnersÀ (MAP) ou seja “Homens como ParceirosÀ que trabalha com os homens para promover a igualdade de género em relação Á saúde sexual e reprodutiva da rapariga; o Fórum dos Homens Sul-africanos; o Agisanang (ADAPT); o Khotla no Lesotho; a MenEngage no Malawi; e o Sonke Gender Justice. Estas organizaçÁµes estão a trabalhar para promover a igualdade de género e masculinidades não sexistas, sensibilizando e reeducando os homens e os rapazes.
Por ocasião dos Dezasseis Dias de Activismo, os governos e a sociedade civil em todo o mundo devem pensar mais criativamente sobre as suas estratégias em prol do combate vitorioso contra as desigualdades e a pandemia da GBV. E, para lograrmos esse desiderato, precisamos de programas eficazes baseados em evidências e intervençÁµes viradas aos homens e ao seu envolvimento, no combate contra este flagelo. Mais importante ainda, os homens devem envolver-se, não só para os episódicos dezasseis dias, mas todos os dias das suas vidas!
Barbara Mhangami-Ruwende é uma estagiÁ¡ria da Saúde pública, activista, escritora e fundadora da Fundação Africana de Pesquisa para a Segurança das Mulheres. Este artigo é parte da Serie Especial dos 16 Dias de Activismo do Serviço de Noticias da Gender Links. Trazendo-lhe novas ideias sobre as notÁcias do dia-a-dia.
Comment on Internacional: Um apelo aos homens para combater Á violência de género