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Maputo, 23 Março: São mulheres iguais a qualquer uma; profissionais, domésticas, mães e avós. Algumas delas inventam inúmeras histórias para justificarem as longas ausências do convÁvio familiar, do trabalho e do bairro, tais como:- “estive na África do Sul, fora da cidade de Maputo ou tinha ido viver num outro bairro”. Trata-se de reclusas do Centro Prisional de Ndlavela, nas redondezas do MunicÁpio da Matola.
Mas é importante ressalvar que nem todas elas estão ali porque efectivamente cometeram um crime, algumas nem sequer foram julgadas, outras estão condenadas injustamente. Por razÁµes estratégicas do Ministério da Justiça, não nos foi dado o número de mulheres que estão a cumprir penas na Cadeia de Ndlavela.
Mas ficamos a saber que mais de 70 por cento de reclusas são jovens com idades compreendidas entre 20 e 35 anos e os restantes 30 por cento têm idades que vão até os 60 anos.
A Cadeia de Ndlavela é um espaço que ultrapassa a dimensão de uma penitenciÁ¡ria, é uma escola de vida, um centro de formação profissional na qual uma analfabeta sai alfabetizada. Ali as mulheres aprendem a tecelagem, corte e costura, actividade agrÁcola, desenho e pintura de batiques e criação de frangos.
Aos sÁ¡bados as mulheres são submetidas Á catequese e aos domingos todas vão Á missa. Ali não importa a congregação de cada uma, o importante é a comunicação com Deus e ver reduzidos os pecados, daÁ que todas professam a religião católica, a única que até este momento realiza missas naquele recinto. Depois da formação as mulheres recebem diplomas de participação passados pelo Ministério da Educação e do Instituto de Formação Profissional do Ministério de Trabalho.
Estas formaçÁµes decorrem ao mesmo tempo em que as mulheres são alfabetizadas, cujo centro estÁ¡ instalado dentro da cadeia e lecciona até ao segundo grau, que vai até Á sétima classe. Segundo a directora do Centro Prisional Feminino, Judite Florêncio, ao criar aquelas oportunidades, a preocupação da cadeia é de formar as mulheres para que depois de libertas tenham enquadramento na sociedade.
Questionada sobre o tipo de crimes cometidos por aquele grupo, Judite Florêncio explicou que não existe diferença entre os crimes cometidos pelos homens e os cometidos pelas mulheres. “Muitas estão aqui como resultado da violência doméstica, mataram os maridos ao tentar se defender de espancamentos e muitas delas estão arrependidas e confessam que o objectivo não era de matar”, disse, acrescentando que existem outras que cometeram crimes porque fazem parte de quadrilhas criminosas.
A nossa fonte explicou ainda que algumas estão ali “porque atiraram seus próprios bebés Á lixeiras, desviaram fundos nas empresas onde trabalhavam, traficaram pessoas e órgãos humanos, venderam ou consumiram drogas ou praticaram outros actos não aceitÁ¡veis na nossa sociedade”.
Na cadeia, cada uma das reclusas procura ter bom comportamento, tÁtulo que pode lhe conferir o direito de gozar a metade da pena em casa.
Nascer condenado
São dezenas de crianças com idades compreendidas entre zero e cinco anos que estão a passar parte da sua infância na condição de reclusas, uma vez que acompanham as suas mães na Cadeia de Ndlavela. Algumas destas crianças nasceram no centro prisional e esperam completar cinco anos para poderem ser separadas das suas progenitoras e enviadas aos seus familiares, mas aquelas que não têm mais ninguém, dependendo apenas das mães, não terão outra sorte se não permanecer na cadeia até Á liberdade da mães.
Alguns destes petizes chegaram bebés e outras nasceram ali, tendo a cadeia como o único modelo de vida. Porque toda a criança nasce abençoada, diferentes ONG ´s e instituiçÁµes desfilam para aquele centro para manifestar o seu gesto de solidariedade, sobretudo com os petizes, levando consigo roupa, mantas e leite. AliÁ¡s, foi este um dos gestos da Ordem dos Advogados.
A cadeia tem uma escola infantil aberta também para crianças externas, onde as reclusas deixam os seus filhos. “Ao trazermos crianças de fora pretendemos oferecer um convÁvio diferente a estes meninos. Para o caso daquelas mulheres que vêm das provÁncias e sem parentes em Maputo ficam com os filhos na cadeia até serem postas em liberdade.
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