Moçambique: As mudanças climÁ¡ticas e os problemas de género


Date: June 1, 2012
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Pemba, 31 de Maio de 2012 – A questão das mudanças climÁ¡ticas encerra consigo vÁ¡rias dimensÁµes, uma delas é a violação sistemÁ¡tica dos direitos humanos das mulheres. Halima Issufo é uma senhora cujos direitos humanos lhes são violados sistematicamente. Com quatro filhos, Issufo é casada hÁ¡ 13 anos. Nasceu e vive em Pemba. Ela tem uma machamba perto da sua casa onde antes semeava hortaliças, milho e amendoim. Estes produtos eram para o consumo familiar e para venda.

Porém, nos últimos tempos a machamba não consegue produzir as mesmas quantidades que antes, o que resultou na baixa da renda familiar. Issufo diz que havia um poço perto da sua machamba de onde ela tirava Á¡gua para irrigação, mas a secou por completo devido ao efeito das mudanças climÁ¡ticas.

Ressentindo-se da situação, ela procurou em 2008 uma outra amiga na zona de Miéze, um pouco distante da cidade de Pemba. Gostou da nova machamba porque tem tudo que ela precisava para uma boa produção, principalmente a Á¡gua.
Mas o marido nunca deixou que ela fosse cultivar alegadamente porque é longe da casa e que ela pode conhecer outro s homens. “Estou cansada desta vida… meu marido é desempregado e mesmo assim não deixa que eu procure sustento para a famÁ­lia. Tenho uma machamba no Miéze mas não me deixa ir,” diz ela num tom de desespero.
Tentou por diversas vezes conversar com o marido sobre o assunto mas este nunca cedeu. Ela insistiu tanto que um dia o marido a esbofeteou, saiu de casa para beber cabanga (uma bebida tradicional do norte do paÁ­s), e apenas voltou Á  casa depois de três dias – foram três dias penosos.

Issufo ficou muito preocupada. Chegou a pensar que algo grave tivesse acontecido com o marido, ou que ele tivesse decidido acabar com o casamento dos dois unilateralmente.

Desde então a situação apenas piorou. O comportamento do esposo não ajuda; além de não querer que ela cultive na machamba de Miéze, ele próprio não se esforça Á  procura de um emprego – o esposo foi funcionÁ¡rio do porto de Pemba mas foi expulso por razÁµes disciplinares. O mais agravante é que a violenta com uma grave frequência, principalmente quando ela não consegue trazer nada para a casa de modo a alimentar a famÁ­lia.

É verdade que o esposo de quando em vez consegue arranjar alguns biscates de pintura, mas o dinheiro é pouco e amiúde gasta-o na bebedeira.

Esta situação, chamou-me a atenção para o seguinte: temos por um lado um machamba que não produz e um poço que secou, e por outro, uma mulher que não pode cultivar porque o esposo não a deixa e ainda por cima sofre violência doméstica.

Este comportamento do marido é de certa forma comum no nosso paÁ­s, onde o processo de socialização de homens e mulheres carrega consigo estereótipos que dão poder ao homem e coloca a mulher em posição subalterna. Por conseguinte, os homens têm o sentido de pertença das mulheres e sentem-se no direito de decidir sobre a vida delas, e geralmente vão pelo que lhes é conveniente.

Ademais, por uma questão de orgulho, o homem não aceita que a mulher trabalhe para suplementar o rendimento familiar.

Esta questão remete-me a concluir que existe uma relação directa entre as mudanças climÁ¡ticas e as relaçÁµes de género e a mulher é quem mais sofre. Por isso é importante que as pessoas de direito olhem para esta questão.

Relativamente a posição do marido que na verdade reflecte a posição de muitos homens em Moçambique, é necessÁ¡rio que este(s), seja(m) submetido(s) a um processo de reflexão emancipatório sobre as normas de género onde poderÁ¡(ão) de forma franca discutir sobre as vantagens e desvantagens deste tipo de atitude com relação as mulheres.

 


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