Moçambique: Dia de Pedido de Desculpa Á s mulheres


Date: September 26, 2012
  • SHARE:

Maputo, 26 de Setembro de 2012 À“ As NaçÁµes Unidas têm datas especiais para promover determinadas causas a nÁ­vel mundial – uma rÁ¡pida consulta Á  pÁ¡gina da ONU sobre Dias Mundiais comprova este facto.

Segundo as NaçÁµes Unidas, a celebração dos dias mundiais visa chamar atenção ao mundo sobre certos compromissos polÁ­ticos que os lÁ­deres mundiais assumem, e servir de momentos e oportunidades de reflexão e re-compromisso com a vontade dos povos.

Vai daÁ­ que uma consulta ao calendÁ¡rio da ONU sobre datas mundiais, ter constatado que, não obstante haver dias que versem sobre a situação da mulher, não hÁ¡ nenhum Dia Mundial de Pedido de Desculpas Á  Mulher. O meu plano é simples: um dia mundial no qual os homens pedissem perdão Á s mulheres por todas as vezes que as humilharam, magoaram, destrataram, etc..

Mas o pedido de desculpas tem que necessariamente vir apenas de homens que estivessem de facto arrependidos dos seus actos atentatórios Á  dignidade da mulher enquanto pessoa humana. Não faria sentido para mim que alguém pedisse desculpas só para o Inglês ver, e que no final do acto voltasse para casa para cometer novas atrocidades contra a sua mãe, irmã, namorada, esposa, entre outras.

Por exemplo, existe muita informação que dÁ¡ conta de inúmeras situaçÁµes onde os homens aparecem como perpetradores de abusos contra mulheres, começando da violência baseada no género. Só em Moçambique, os dados estatÁ­sticos mais recentes produzidos pelo Instituto Nacional de EstatÁ­sticas indicam que 32% de mulheres foram vÁ­timas de actos de violência fÁ­sica ou sexual por parte dos companheiros – os números podem ser mais elevados do que a percentagem nos mostra porque nem todas as mulheres reportam casos de violência.

Quando o governo aprovou o Plano Nacional de Acção para Prevenção e Combate Á  Violência Doméstica para o quinquénio 2008-2012, cujo objetivo era combater e acabar com a violência baseada no género, argumentou que “o fenómeno de violência contra a mulher atingiu jÁ¡ proporçÁµes significativas, limitando de forma drÁ¡stica as suas enormes potencialidades, na produção, na educação e preservação da identidade e coesão da famÁ­lia, como o mais importante pilar que assegura a existência, manutenção e desenvolvimento do paÁ­s.À

Portanto, acabar com a violência implicava que ” todos os intervenientes devem concentrar seus esforços na sua implementação, destacam-se aqueles relacionados com determinados valores culturais e do padrão de socialização, que estabelecem que acima de tudo, a mulher esta para servir e satisfazer o homem; e ao mesmo tempo que ela deve obediência ao homem. A necessidade de transformar estas mentalidades ao nÁ­vel ComunitÁ¡rio, Distrital, Provincial e Central, constitui desafio pois requer consensos, perseverança e uma acção comum, e exige mudança de comportamento.

Penso eu que um dia votado especialmente para o homem podia ajudÁ¡-lo a consciencializar-se de que violentar a mulher é um atentado Á  sua dignidade como pessoa humana. Ademais, esta seria uma oportunidade soberana para o próprio envolver-se na promoção da igualdade e equidade do género.

Mas também a nÁ­vel psicológio seria talvez para o homem uma espécie de catarse. Acho que existem muitos homens que até devem estar envergonhados da sua conduta, mas por causa de valores culturais e padrÁµes de socialização, que conferem supremacia ao homem, eles continuam a violenta-las. O dia seria uma ocasião para eles se libertarem do colete de forças que os leva a praticarem tais actos, e estarem em paz consigo mesmo. Sim, o pedido de desculpas também liberta!

O mundo precisa sim de um Dia Mundial Pedido de Desculpas Á  Mulher, daÁ­ que proponho Á s NaçÁµes Unidas para estabelecer no seu calendÁ¡rio um tal dia. AliÁ¡s, este seria o único dia para o homem que jÁ¡ reclama não ter dia próprio para ele.

Rúven Covane é um estagiÁ¡rio da Gender Links. Este artigo faz parte do Serviço Lusófono da Gender Links


Comment on Moçambique: Dia de Pedido de Desculpa Á s mulheres

Your email address will not be published. Required fields are marked *