Moçambique: Luta pela emancipação da mulher longe do fim

Moçambique: Luta pela emancipação da mulher longe do fim


Date: March 12, 2015
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Maputo, 12 de Março: Em Moçambique persistem os desafios na luta pela emancipação da mulher. Este sentimento foi avançado semana passada, na capital do paÁ­s, durante as celebraçÁµes do Dia Internacional da Mulher, num encontro organizado pela Embaixada da França, onde activistas na luta pelos direitos da mulher apontaram as prÁ¡ticas culturais e a educação como factores que ainda hipotecam o alcance da igualdade de direitos entre homem e mulher.

O Centro Cultural Franco-Moçambicano acolheu a efeméride, através de diferentes actividades de exaltação do papel da mulher, na luta pela sua emancipação, com destaque para um espectÁ¡culo musical, abrilhantado pela banda Kapulana Hip Hop e a rainha do Rap moçambicana, também conhecida por CBC Iveth que deu corpo e alma Á  festa.

O ponto mais alto das celebraçÁµes da Semana da Mulher, que decorreu Á  margem do dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, foi o debate subordinado ao tema “Educar as meninas, Educar os meninos e vice-versa: Qual o papel da educação na emancipação das mulheres nas nossas sociedadesÀ.

Neste debate, activistas que trabalham na Á¡rea dos direitos da mulher reivindicaram prÁ¡ticas culturais ajustadas Á  realidade actual da mulher, hoje numa sociedade onde a educação familiar joga um papel importante na emancipação da mulher.

Nacima Figia, da organização não-governamental Save the Children, denunciou o que chamou de educação para a desigualdade que continua a ser fomentada pelas famÁ­lias e conluio com o sector de educação.

Figia deu como exemplos da educação para a desigualdade a estandardização das brincadeiras da infância por sexo, ou seja, a rapariga é ensinada que o seu lugar é a cozinha dai que as suas brincadeiras tem de estar relacionadas com as panelas e outras tarefas domésticas. Em contrÁ¡rio, aos rapazes, é desde tenra idade lhes ensinado o futebol e brincadeiras em carinhos de corridas.

Esta orientação segregacionista, é no final do dia, a teia com que se constrói uma sociedade nos nossos tempos, onde as mulheres só têm deveres e os homens direitos.

Nacima Figia defende igualmente que hÁ¡ uma necessidade de se começar a incutir no homem e na mulher, a mensagem de igualdade, ainda na idade em que as crianças se encontram no ensino primÁ¡rio.

“A partir dos 9 anos quando atingem a puberdade as raparigas são preparadas para receber o marido. Esta é a mensagem principal passada Á  rapariga nas zonas rurais À“ serÁ¡ que com esta postura vamos conseguir ter a igualdade de género que tanto almejamos?À -questionou Nacima Figia.

Para Nacima Figia, habitualmente os que atropelam os direitos da mulher se escondem por detrÁ¡s da cultura para justificar estes actos, mas é preciso compreender que a cultura não é estÁ¡tica, mas sim dinâmica e as prÁ¡ticas culturais devem estar ajustadas Á s necessidades actuais.

“… É claro, que a cultura tem coisas boas que podem ser passadas de geração em geração, mas é preciso desencorajar as prÁ¡ticas nocivas aos direitos da mulher…À À“ asseverou a fonte.

Por sua vez, Manjia MacuÁ¡cua, do Fórum Mulher, queixou-se do abandono em que as crianças estão votadas nos dias que correm, pois, no seu entender, muitas famÁ­lias demitiram-se das suas obrigaçÁµes na educação dos filhos.

Bayano Valy, auto-proclamado “mulher-honorÁ¡rioÀ membro da Rede HOPEM À“ Homens pela Mudança, defendeu que para compreender as mulheres é preciso primeiro calçar o salto alto.

Valy, falando das suas experiências, disse que desde os tempos idos as reivindicaçÁµes sobre os direitos da mulher foram sempre feitas pela própria mulher e ficou claro que o homem foi sempre parte do problema e nunca parte da solução.

O “mulher-honorÁ¡rioÀ acrescentou que foi com o intuito de mudar esta forma de estar que a Rede HOPEM se envolveu nesta luta com vista a dizer que percebe a causa das mulheres, reconhece as desigualdades e quer, por isso, participar na inversão do cenÁ¡rio.

Bayano Valy disse ainda ser necessario “compreender primeiro que os homens passaram pelo processo de socialização e resultou no que são hoje, pois sem esta compreensão fica difÁ­cil entrar para esta luta de igualdade e destruir o modelo de patriarcado e construir um modelo em que todos são iguais e têm os mesmos direitos e oportunidadesÀ.

Bayano defendeu ainda, intervençÁµes criativas para humanizar a sociedade moçambicana “é nesse contexto que trabalhamos com os meninos e as meninas em 10 escolas na provÁ­ncia de Maputo, para incutir por exemplo que o assédio sexual Á  rapariga é crime, um atentado aos direitos humanosÀ.

AliÁ¡s, segundo referiu a fonte, graças ao trabalho que a Rede HOPEM estÁ¡ a desenvolver na escola, os meninos ganharam consciência e têm denunciado os professores que praticam assédio sexual, contrariamente ao que anteriormente acontecia, onde o problema do assédio a alunas era visto como assunto daquela aluna.

Benilde Nhalivilo, do Fórum das RÁ¡dios ComunitÁ¡rias, destacou na sua intervenção, as conquistas das mulheres na esfera polÁ­tica, económica e social, para além da sua notÁ¡vel presença num campo antes considerado masculino, embora ainda haja muito por fazer.

Para Nhalivilo, “é preciso reconhecer que Moçambique deu passos significativos.À

Nhalivilo falou ainda dos ganhos registados na luta pela dignidade da mulher, com a aprovação da Lei da FamÁ­lia, da Lei contra a Violência Doméstica e do Código Penal. Mas ajuntou que “apesar dos múltiplos desafios pela frente, esta luta é, na verdade, vista como uma luta de mulheres e homens, porque não hÁ¡ como as mulheres ficarem emancipadas se os homens não participarem e compreenderem o que é a emancipação das mulheres.À

A coordenadora do Fórum das RÁ¡dios ComunitÁ¡rias indicou ainda que nenhuma cultura estÁ¡ acima dos direitos humanos, apesar de as questÁµes de género constituÁ­rem um desafio permanente aos valores culturais dos povos.

Aida Matsinhe é uma jornalista freelance em Maputo. Esta história faz parte do Serviço de NotÁ­cias da Gender Links, oferecendo novos pontos de vista sobre o dia-a-dia da actualidade informativa.

 


One thought on “Moçambique: Luta pela emancipação da mulher longe do fim”

FAQUE INACIO says:

A EMACIPACAO DA MULHER ESTA BEM VINDA. MAS MUITO QUE REVISITAR A SUA INTRODUCAO E ADEQUA-LA QUANTO POSSIVEL OU BEM DITO APROXIMA-LA A CULTURA MAE,DE FORMA QUE TENHAMOS MULHERES DIFERENTES DAS OUTRAS LATITUDES(CULTURALMENTE).A MULHER SENDO A EDUCADORA POR EXCELENCIA, ELA DEVE SER UMA REFERENCIA INCONTORNAVEL DA NOSSA CULTURA ONDE TODOS DEVEMOS BEBER A REFERENCIA CULTURAL. TENDO EM CONTA QUE TODO O DESENVOLVIMENTO SEJA ECONOMICO,SOCIAL ,ORGANIZACIONAL, PASSA POR CULTURA DE UMA SOCIEDADE.NAO DESCURANDO EM PARTE DOS ASPECTOS NEGATIVOS QUE DEVEM MERECER A SEU DEPURAMENTO COM CERTTEZA,NO QUE SAO POSITIVOS DEVIAM SER RECONHECIDOS E SALVANGUARDOS NA EMACIPACAO DA MULHER MOCAMBICANA.

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