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Maputo, 12 de Março: Em Moçambique persistem os desafios na luta pela emancipação da mulher. Este sentimento foi avançado semana passada, na capital do paÁs, durante as celebraçÁµes do Dia Internacional da Mulher, num encontro organizado pela Embaixada da França, onde activistas na luta pelos direitos da mulher apontaram as prÁ¡ticas culturais e a educação como factores que ainda hipotecam o alcance da igualdade de direitos entre homem e mulher.
O Centro Cultural Franco-Moçambicano acolheu a efeméride, através de diferentes actividades de exaltação do papel da mulher, na luta pela sua emancipação, com destaque para um espectÁ¡culo musical, abrilhantado pela banda Kapulana Hip Hop e a rainha do Rap moçambicana, também conhecida por CBC Iveth que deu corpo e alma Á festa.
O ponto mais alto das celebraçÁµes da Semana da Mulher, que decorreu Á margem do dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, foi o debate subordinado ao tema “Educar as meninas, Educar os meninos e vice-versa: Qual o papel da educação na emancipação das mulheres nas nossas sociedadesÀ.
Neste debate, activistas que trabalham na Á¡rea dos direitos da mulher reivindicaram prÁ¡ticas culturais ajustadas Á realidade actual da mulher, hoje numa sociedade onde a educação familiar joga um papel importante na emancipação da mulher.
Nacima Figia, da organização não-governamental Save the Children, denunciou o que chamou de educação para a desigualdade que continua a ser fomentada pelas famÁlias e conluio com o sector de educação.
Figia deu como exemplos da educação para a desigualdade a estandardização das brincadeiras da infância por sexo, ou seja, a rapariga é ensinada que o seu lugar é a cozinha dai que as suas brincadeiras tem de estar relacionadas com as panelas e outras tarefas domésticas. Em contrÁ¡rio, aos rapazes, é desde tenra idade lhes ensinado o futebol e brincadeiras em carinhos de corridas.
Esta orientação segregacionista, é no final do dia, a teia com que se constrói uma sociedade nos nossos tempos, onde as mulheres só têm deveres e os homens direitos.
Nacima Figia defende igualmente que hÁ¡ uma necessidade de se começar a incutir no homem e na mulher, a mensagem de igualdade, ainda na idade em que as crianças se encontram no ensino primÁ¡rio.
“A partir dos 9 anos quando atingem a puberdade as raparigas são preparadas para receber o marido. Esta é a mensagem principal passada Á rapariga nas zonas rurais À“ serÁ¡ que com esta postura vamos conseguir ter a igualdade de género que tanto almejamos?À -questionou Nacima Figia.
Para Nacima Figia, habitualmente os que atropelam os direitos da mulher se escondem por detrÁ¡s da cultura para justificar estes actos, mas é preciso compreender que a cultura não é estÁ¡tica, mas sim dinâmica e as prÁ¡ticas culturais devem estar ajustadas Á s necessidades actuais.
“… É claro, que a cultura tem coisas boas que podem ser passadas de geração em geração, mas é preciso desencorajar as prÁ¡ticas nocivas aos direitos da mulher…À À“ asseverou a fonte.
Por sua vez, Manjia MacuÁ¡cua, do Fórum Mulher, queixou-se do abandono em que as crianças estão votadas nos dias que correm, pois, no seu entender, muitas famÁlias demitiram-se das suas obrigaçÁµes na educação dos filhos.
Bayano Valy, auto-proclamado “mulher-honorÁ¡rioÀ membro da Rede HOPEM À“ Homens pela Mudança, defendeu que para compreender as mulheres é preciso primeiro calçar o salto alto.
Valy, falando das suas experiências, disse que desde os tempos idos as reivindicaçÁµes sobre os direitos da mulher foram sempre feitas pela própria mulher e ficou claro que o homem foi sempre parte do problema e nunca parte da solução.
O “mulher-honorÁ¡rioÀ acrescentou que foi com o intuito de mudar esta forma de estar que a Rede HOPEM se envolveu nesta luta com vista a dizer que percebe a causa das mulheres, reconhece as desigualdades e quer, por isso, participar na inversão do cenÁ¡rio.
Bayano Valy disse ainda ser necessario “compreender primeiro que os homens passaram pelo processo de socialização e resultou no que são hoje, pois sem esta compreensão fica difÁcil entrar para esta luta de igualdade e destruir o modelo de patriarcado e construir um modelo em que todos são iguais e têm os mesmos direitos e oportunidadesÀ.
Bayano defendeu ainda, intervençÁµes criativas para humanizar a sociedade moçambicana “é nesse contexto que trabalhamos com os meninos e as meninas em 10 escolas na provÁncia de Maputo, para incutir por exemplo que o assédio sexual Á rapariga é crime, um atentado aos direitos humanosÀ.
AliÁ¡s, segundo referiu a fonte, graças ao trabalho que a Rede HOPEM estÁ¡ a desenvolver na escola, os meninos ganharam consciência e têm denunciado os professores que praticam assédio sexual, contrariamente ao que anteriormente acontecia, onde o problema do assédio a alunas era visto como assunto daquela aluna.
Benilde Nhalivilo, do Fórum das RÁ¡dios ComunitÁ¡rias, destacou na sua intervenção, as conquistas das mulheres na esfera polÁtica, económica e social, para além da sua notÁ¡vel presença num campo antes considerado masculino, embora ainda haja muito por fazer.
Para Nhalivilo, “é preciso reconhecer que Moçambique deu passos significativos.À
Nhalivilo falou ainda dos ganhos registados na luta pela dignidade da mulher, com a aprovação da Lei da FamÁlia, da Lei contra a Violência Doméstica e do Código Penal. Mas ajuntou que “apesar dos múltiplos desafios pela frente, esta luta é, na verdade, vista como uma luta de mulheres e homens, porque não hÁ¡ como as mulheres ficarem emancipadas se os homens não participarem e compreenderem o que é a emancipação das mulheres.À
A coordenadora do Fórum das RÁ¡dios ComunitÁ¡rias indicou ainda que nenhuma cultura estÁ¡ acima dos direitos humanos, apesar de as questÁµes de género constituÁrem um desafio permanente aos valores culturais dos povos.
Aida Matsinhe é uma jornalista freelance em Maputo. Esta história faz parte do Serviço de NotÁcias da Gender Links, oferecendo novos pontos de vista sobre o dia-a-dia da actualidade informativa.
One thought on “Moçambique: Luta pela emancipação da mulher longe do fim”
A EMACIPACAO DA MULHER ESTA BEM VINDA. MAS MUITO QUE REVISITAR A SUA INTRODUCAO E ADEQUA-LA QUANTO POSSIVEL OU BEM DITO APROXIMA-LA A CULTURA MAE,DE FORMA QUE TENHAMOS MULHERES DIFERENTES DAS OUTRAS LATITUDES(CULTURALMENTE).A MULHER SENDO A EDUCADORA POR EXCELENCIA, ELA DEVE SER UMA REFERENCIA INCONTORNAVEL DA NOSSA CULTURA ONDE TODOS DEVEMOS BEBER A REFERENCIA CULTURAL. TENDO EM CONTA QUE TODO O DESENVOLVIMENTO SEJA ECONOMICO,SOCIAL ,ORGANIZACIONAL, PASSA POR CULTURA DE UMA SOCIEDADE.NAO DESCURANDO EM PARTE DOS ASPECTOS NEGATIVOS QUE DEVEM MERECER A SEU DEPURAMENTO COM CERTTEZA,NO QUE SAO POSITIVOS DEVIAM SER RECONHECIDOS E SALVANGUARDOS NA EMACIPACAO DA MULHER MOCAMBICANA.