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Maputo, 31 de Maio de 2012 – o distrito de Boane hÁ¡ 30 quilómetros da cidade de Maputo é rica em agricultura. Boane localiza-se num vale banhado por três rios, nomeadamente Umbeluzi, Matola e Tembe.
As caracterÁsticas agrÁcolas de Boane valeram-no uma escola agrÁ¡ria, e um centro de demonstração de tecnologias agrÁ¡rias construÁdo pelo governo chinês. Tudo isto concorre para que Boane alimente a cidade e provÁncia de Maputo.
Porém, os agricultores locais jÁ¡ começam a queixar-se de baixa produção devido ao facto de que as terras não têm rendido muitas culturas. Um dos produtos que parece estar a escassear é o repolho. O repolho é um dos legumes que faz parte constante da dieta das populaçÁµes do distrito.
Esta situação preocupa-me como residente do distrito. O que estarÁ¡ por detrÁ¡s da baixa produção de produtos agrÁcolas? TerÁ¡ isso a ver com as mudanças climÁ¡ticas? SerÁ¡ o tipo de produtos que os agricultores usam para a produção?
José António, agricultor hÁ¡ mais de duas décadas, diz que o que produz ultimamente não dÁ¡ para a sua sobrevivência. António tem ao seu cuidado netos e bisnetos, sendo que, estÁ¡ a ficar difÁcil cuidar deles adequadamente. Isso preocupa-o muito tanto que a agricultura é o seu ganha-pão.
A justificação que ele recebeu dos ambientalistas pela baixa produção é de que este ano não é de colheitas. Mas o que ele vê é que a chuva não tem caÁdo com constância e a terra estÁ¡ a secar.
Á€ semelhança de José António, existem muitos outros agricultores e camponeses que se debatem com a baixa capacidade da terra para produzir alimentos. Esta baixa capacidade de produção afecta em grande medida as mulheres – em Boane constituem 53 porcento da população.
Muitas famÁlias estão sob cuidado das mulheres, e muitas delas são camponesas que se dedicam Á produção de legumes e vegetais. Mas devido Á s mudanças climÁ¡ticas elas jÁ¡ não conseguem produzir muito para o consumo familiar e venda.
Mas, em minha opinião, não são apenas as mudanças climÁ¡ticas que são o único factor para se explicar a baixa produção de produtos alimentares em Boane. Houve tempos em que a agricultura era feita em rotação, ou seja, deixava-se parte da terra em pousio de modo a recuperar, enquanto se produzia noutros pedaços de terra, e até sabia-se que tipo de culturas se lançar ao solo. Mas jÁ¡ não se respeita muito esta prÁ¡tica; hoje muitos que só querem produzir as culturas que têm saÁda no mercado.
E como se não bastasse, os solos para a prÁ¡tica da actividade agrÁcola vão escasseando. HÁ¡ um fenómeno interessante que estÁ¡ a ocorrer: quanto mais a renda sobe para alguns moçambicanos, eles vêem em Boane um local onde erguer os sÁmbolos da sua opulência, isto é, mansÁµes. Portanto, houve vastas porçÁµes de terra que anteriormente eram machambas mas que deram lugar a mansÁµes.
Penso que são esses factores todos que concorrem para que haja escassez de alguns produtos alimentares bÁ¡sicos no distrito. Obviamente que o das mudanças climÁ¡ticas é o mais grave porque altera por completo os padrÁµes climÁ¡ticos.
O meu apelo vai no sentido do Ministério da Agricultura se inteirar mas no assunto para que não se passe mal nos próximos anos. Por exemplo, o que fazem a escola agrÁ¡ria e o contro de transferência de tecnologias? Não era suposto estarem a ajudar na busca de soluçÁµes para fazer face Á s mudanças climÁ¡ticas, e disseminar informação de modo a que as populaçÁµes pratiquem uma agricultura sustentÁ¡vel?
Penso que é altura do governo definir estratégias e programas concretas na conservação de solos para a produção de variedades de produtos agrÁcolas. Por exemplo, podia se apostar em projectos de rotação, pelo que, serÁ¡ necessÁ¡rio que o governo e actores sociais mobilizem e consciencializem os camponeses a agricultores a usarem prÁ¡ticas produtivas que não afectem o seu próprio meio de subsistência e de rendimentos.
Hamina LacÁ¡ é jornalista do Jornal O Público. Este artigo faz parte do Serviço de Opinião e ComentÁ¡rio da Gender Links
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