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Maputo, 31 de Janeiro de 2013 À“ Moçambique volta mais uma vez a estar no centro de atençÁµes do mundo por causa de mais uma calamidade natural. Todavia, faltando nos discursos é a ligação entre as cheias e as mudanças climÁ¡ticas.
Essa constatação resulta do facto de que as mudanças climÁ¡ticas geram mudanças nos padrÁµes de temperaturas e precipitação, impactando sobre a saúde dos ecossistemas, produtividade agrÁcola, saúde humana, perda da biodiversidade, entre outros.
Ademais, as mudanças climÁ¡ticas são caracterizadas por aumento da frequência e intensidade da ocorrência de secas, cheias, tempestades, etc. e são atribuÁdos directa ou indirectamente a actividades humanas.
Os seus efeitos são desastrosos como se pode constatar pelas imagens das cheias que assolam as vÁ¡rias partes do paÁs. Segundo o Instituto Nacional de Gestão das Calamidades (INGC), as chuvas fizeram mais de 40 mortos, destruÁram diversa infraestrutura e afectaram mais de 80.000 pessoas, para além de destruÁrem milhares de hectares de culturas diversas.
Estima-se que serão necessÁ¡rios 15 milhÁµes de dólares norte-americanos para a operação da ajuda humanitÁ¡ria.
Imediatamente, as famÁlias que foram afectadas só podem depender da ajuda humanitÁ¡ria para abrigo e alimentos. E este é um cenÁ¡rio que manter-se-Á¡ por vÁ¡rios meses devido Á perda das suas culturas. E a implicação é de que não poderão trabalhar as suas machambas, o que vai baixar a produtividade agrÁcola no paÁs.
Mais, as chuvas também cortaram as ligaçÁµes terrestres entre o norte e sul do paÁs. O que estÁ¡ a provocar complicaçÁµes no escoamento de produtos alimentares para as diversas zonas afectadas. AliÁ¡s, jÁ¡ é notÁ¡vel a subida de preços de alimentos.
Mas hÁ¡ uma outra dimensão que estas cheias expuseram: as desigualdades do género. Diversos estudos indicam que as calamidades naturais impactam de forma diferente sobre os homens e mulheres. De algum modo, as mulheres e crianças são mais vulnerÁ¡veis aos impactos das mudanças climÁ¡ticas e suas consequências porque têm pouco acesso aos recursos.
Isto significa que podem ter menos capacidade para mobilizar recursos para a sua reabilitação, bem como estarem mais sobrecarregadas com responsabilidades domésticas, o que não as deixa com muito tempo para procurar fontes de rendimento para aliviar o seu sofrimento.
E isso também impacta sobre a pobreza. Embora ainda seja muito cedo para se avaliar o impacto das cheias sobre os esforços tendentes ao combate da pobreza, com a redução da produção agrÁcola e falta de escoamento de produtos alimentares, os Ándices de pobreza irão provavelmente aumentar, representando um forte revês ao paÁs.
Infelizmente, mais uma vez o grupo mais afectado pela pobreza no paÁs é o das mulheres e crianças. Certamente que a sua situação de pobres e vulnerÁ¡veis serÁ¡ exacerbada pelos efeitos e consequências das cheias.
As notÁcias da eclosão de doenças diarreicas e cólera nos centros de acomodação das vÁtimas das cheias também não auguram um futuro risonho a breve trecho. E se não se prestar uma grande atenção, o maior número de vÁtimas dessas doenças poderÁ¡ sair do grupo de crianças e mulheres.
Portanto, é importante que as autoridades tomem em atenção que existem relaçÁµes de poder assimétricas baseadas no género na gestão destas cheias. As estratégias de alÁvio e de ajuda devem tomar em conta as experiências dos homens e mulheres de forma diferenciada.
Ademais, é preciso que as organizaçÁµes de sociedade civil que trabalham na Á¡rea do género usem essas cheias para chamar atenção ao governo sobre a necessidade de se assinar a Adenda sobre Género e Mudanças ClimÁ¡ticas ao Protocolo da SADC sobre o Género e Desenvolvimento, e que isso deve constar da agenda da SADC na Cimeira dos Chefes de Estado e do Governo a ter lugar no Malawi, em Agosto deste ano.
A racionalidade da inclusão da Adenda ao Protocolo prende-se com o facto de que quando foi adoptado, o discurso sobre mudanças climÁ¡ticas era ainda incipiente. E a Adenda visa levar os Estados membro da SADC a tomarem em conta que as mudanças climÁ¡ticas impactam mais sobre as mulheres e crianças, sobrecarregando o seu fardo de trabalho porque passam, por exemplo, a percorrer maiores distâncias para buscar Á¡gua e lenha.
Talvez o mais importante é a comunicação social reportar estas cheias sem descurar as dimensÁµes do género e mudanças climÁ¡ticas de modo a que se chame atenção Á s autoridades da necessidade de ligarem as cheias Á s mudanças climÁ¡ticas, bem como aterem-se também Á dimensão do género.
Este artigo faz parte do Serviço Lusófono de Opinião e ComentÁ¡rio da Gender Links
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