Moçambique: Para os portadores de deficiência, onde hÁ¡ trabalho, não hÁ¡ limites

Moçambique: Para os portadores de deficiência, onde hÁ¡ trabalho, não hÁ¡ limites


Date: December 3, 2014
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Maputo, 3 de Dezembro: Julieta Chichava, 54 anos de idade, é artesã hÁ¡ 23 anos e portadora de deficiência desde a nascença. Conta que adquiriu deficiência nos membros inferiores, ainda menor, com apenas 1 ano de idade após ter recebido uma vacina, depois de ter adoecido.

Sempre enfrentou dificuldades pela sua condição, e não conhece limites, pelo que muito faz sem esperar que algo lhe caia nas mãos.

Antes de se tornar artesã, trabalhou como servente no Hospital Central de Maputo, HCM, por nove (9) anos. Ela teria abandonado o HCM, devido a uma diferença no pagamento salarial.

“…Por ser deficiente, pagavam-me pouco. Quando procurei saber os porquês, disseram-me que devia agradecer por ao menos receber…À, segundo a nossa interlocutora.

Entretanto, foi graças a uma senhora inglesa, que conheceu a ARTIDIF e passou a fazer parte dela, em 1992. A associação foi como uma escola, onde aprendeu até se desprender da mesma.

“…Me inscrevi na associação para aprender. LÁ¡ aprendi o artesanato. Não foi fÁ¡cil, mas com muita dedicação e empenho, aprendi muita coisa, e hoje trabalho por conta própria…À.

Em 2011, Julieta passa para a Feira de Artesanato, Flores e Gastronomia, onde até então produz e vende por “conta própriaÀ.

Segundo ela, o baixo subsÁ­dio foi uma das causas que a levou a abandonar a ARTIDIF. “… Abandonei a associação porque jÁ¡ me sentia capaz de trabalhar sozinha. O valor que recebia não dava para custear as despesas de casa nem para pôr as crianças a estudar…À.

Nesse espaço, ela diz produzir e comercializar produtos tais como: carteiras, bolsas, chaveiros e calçado, feitos na base de couro. Tem uma taxa mensal de 400 meticais a pagar, mas graças aos seus rendimentos, Julieta diz que consegue cumprir com a sua obrigação.

Os produtos de couro, apesar de serem manuais são de qualidade e durÁ¡veis, por isso paga-se um pouco mais caro que os fabricados com outros materiais.

“…Os preços dependem por sua vez da materia-prima, o cabedal que é importado da vizinha africa do sul. Na factura da mercadoria, inclue-se também os custos de transporte da mercadoria. Por vezes compramos na Matola Rio, na União de Curtumes de Moçambique, quando não podemos esperar pelo produto sul-africano que é de maior qualidade…À – explica Julieta.

A nossa entrevistada diz que além de produzir também é formadora de novos artesãos. Actualmente estÁ¡ a formar sete (7) futuros artesãos que trabalham apenas ao final de semana, no seu espaço.

HÁ¡ pouca valorização da nossa cultura

Apesar da crescente procura de produtos feitos em cabedal, por parte de estrangeiros, os artesãos ainda queixam-se da falta de valorização da sua arte por parte dos nacionais. A fraca clientela também estÁ¡ aliada a falta de publicidade, por parte dos responsÁ¡veis da feira de artesenato.

“…Os maiores apreciadores da nossa arte são os estrangeiros e compram muito, sem se preocuparem com o valor. Eles reconhecem que este trabalho não é fÁ¡cil, mas tambem conhecem a sua originalidade e exclusividade pois só é possivel encontrar este tipo de produtos aqui. As lojas não têm este tipo de produto…À À“ explica Julieta.

Os portadores de deficiência continuam a enfrentar vÁ¡rias dificuldades no seu dia-a-dia, desde o problema de acesso ao sistema de transportes públicos, violação dos seus direitos, a falta de locais e meios adaptados para a locomoção, entre outras dificuldades.

” … Por exemplo é difÁ­cil apanhar um transporte público para vir ao trabalho, porque as pessoas pensam que sou mais uma daquelas pessoas que andam pelas ruas pedir esmola. HÁ¡ dias que fico pelo caminho, porque não consigo apanhar um autocarro. As pessoas não têm paciência para connosco. Os transportes públicos que eram de grande ajuda, também não nos têm ajudado.

O mesmo acontece com a distribuição de cadeiras de rodas. JÁ¡ não me lembro quantas vezes, me inscrevi para ter uma, mas a sorte ainda não me bafejou. A cadeira de rodas que uso foi-me oferecida, graças Á  boa vontade das pessoas…À – desabafou a nossa entrevistada.

A Artesanato dos Portadores de Deficiência FÁ­sica, ARTIDIF, é uma associação de pessoas com deficiências fÁ­sicas, que existe hÁ¡ 43 anos. Os membros são formados para que estes saibam como buscar o seu próprio sustento através do artesanato. A associação congrega pessoas cuja deficiência não afecta os membros superiores, contando actualmente, com treze (13) membros.

As actividades desenvolvidas são: o artesanato com base no couro ou cabedal e costura de tecidos. O valor da venda dos produtos é usado na aquisição de matéria-prima, pagamento de pequenas despesas e para subsidiar os membros.

A ARTIDIF jÁ¡ contou com o apoio de algumas organizaçÁµes não-governamentais, mas actualmente trabalha sem apoios de nenhuma instituição.

“… Por essa razão estÁ¡ a enfrentar vÁ¡rias dificuldades, desde a falta de meios para chegar ao local do trabalho, aquisição de matéria-prima e sustentabilidade da agremiação e dos membros. JÁ¡ remetemos cartas ao Governo e até então não recebemos retorno dessas petiçÁµes de apoio. A esposa do Presidente da República, Maria da Luz Guebuza jÁ¡ visitou a nossa associação e prometeu apoiar-nos, mas até hoje aguardÁ¡mos…À- Disse em geito de fecho da nossa entrevista Julieta membro da Associação de Artesenato dos Deficientes FÁ­sicos – ARTIDIF.

Este artigo é parte do Serviço de Noticias da Série Especial da Gender Links alusivo aos Dezasseis Dias de Activismo. Trazendo-lhe novas ideias sobre notÁ­cias do dia-a-dia.

 


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