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Maputo, 31 de Maio – As plantas têm um uso mais amplo do que apenas como alimento e reservatório genético e jÁ¡ forneceram provas tangÁveis do seu potencial na cura de vÁ¡rios tipos de doenças que podem afectar as pessoas desde Á infância e em todo o percurso das suas vidas.
Ultimamente abundam os debates sobre o papel dos pais na criação dos filhos, e vÁ¡rios estudos têm mostrado que no nosso paÁs, as mulheres é que tem o papel de cuidar dos filhos e de pessoas doentes dentro da famÁlia, de modo que devia se disseminar junto das mulheres as diversas alternativas de cuidados de saúde para o bem-estar das suas famÁlias.
As plantas são desde hÁ¡ muito tempo utilizadas no tratamento de vÁ¡rias doenças. Por conseguinte, em Moçambique, as mulheres utilizam determinados tipos de plantas para tratar vÁ¡rios tipos de doenças que os seus filhos adquirem durante o processo de crescimento, e o conhecimento do uso dessas plantas é passado de mães para filhas, e geralmente essas plantas germinam nos quintais das casas ou nas proximidades.
HÁ¡ tempos atrÁ¡s, era comum ouvir alguém a queixar-se de algum tipo de dor e ser-lhe recomendado uma planta e essa ser encontrada no seu próprio quintal ou nas proximidades. Porém, segundo conversas tidas com vÁ¡rias pessoas, nota-se uma mudança desse cenÁ¡rio, uma vez que, atualmente, é possÁvel não encontrar uma daquelas plantas que antigamente germinava nos quintais e curava vÁ¡rias doenças sem ter que se recorrer Á medicina moderna.
Durante a infância, inúmeras foram as vezes que via a minha mãe tirar folhas do quintal para tratar ferimentos resultados de acidentes domésticos. E frequentemente, elas curavam os ferimentos sem que tivesse que recorrer ao posto médico ou farmÁ¡cia.
No nosso quintal germinavam variedades de plantas cuja utilidade ninguém da famÁlia conhecia. Certo dia passou uma senhora que pediu permissão para tirar algumas folhas de uma das plantas. De seguida ela explicou Á minha mãe que aquela planta tinha a mesma utilidade que o bÁ¡lsamo (pomada muito usada para dores musculares), curava dores em qualquer parte do corpo e até podia-se usar para fazer passos quentes nas feridas. Com esta explicação, a planta ganhou novo sentido e a usamos por longos anos até ela começar a secar misteriosamente, tendo com o tempo desaparecido do nosso quintal.
Recentemente tive uma conversa com uma senhora com quem frequento a mesma igreja. Ela queixava-se de dores constantes de estômago e dizia que hÁ¡ um tempo atrÁ¡s havia muitas plantas para o tratamento de problemas de estômago, mas agora jÁ¡ germinavam. Todos os quintais estão limpos e não se vê nenhuma planta medicinal. Caso ela queira ter alguma dessas plantas, talvez teria que recorrer a lugares distantes, sendo que, seria muito dispendioso. Para esta senhora, existe algo que mudou no clima; as chuvas caem fora da época, seguidas de calor intenso, destruindo a criação da natureza.
“Houve tempos que se usava muito a cacana (planta trepadeira) para curar bÁlis, fazer lavagem do sangue e curar muitas doenças que afectam as crianças, e essas folhas podiam ser arrancadas no quintal dias depois de ter caÁdo chuva, mas agora nem cacana sai”, ressalvou a interlocutora.
Com base nesta conversa e em muitas outras, percebe-se claramente que o desaparecimento das plantas medicinais, reflecte negativamente na vida das mulheres, principalmente naquelas que são mães, porque as plantas eram usadas para curar vÁ¡rias doenças, incidentes domésticos sem que se recorresse ao médico. Isto permitia que se poupasse o tempo dos médicos para tratarem de doenças sérias e elas também ganhavam tempo para os deveres domésticos.
A situação preocupante neste caso não estÁ¡ apenas em torno ao desaparecimentos das plantas medicinais que dificulta a vida das mulheres mais também preocupa o facto de existir muito conhecimento sobre plantas medicinais e este não estar a ser aproveitado e pesquisado por quem tem o poder de tal o fazer para o bem de todos.
Como sugestão de potencialização das plantas, podia-se abrir um espaço nos bairros, distritos, para que quem tiver conhecimento do uso de uma planta partilhasse o seu conhecimento e tal ser instrumento de pesquisa para quando comprovada a sua funcionalidade, o mesmo possa servir a todos e valorizando-se quem o partilhou para a pesquisa.
Gina Matapisse é uma activista social. Este artigo é parte do Serviço de Opinião e ComentÁ¡rio da Gender Links
5 thoughts on “Moçambique: Plantas medicinais desaparecem com a visibilidade das mudanças climÁ¡ticas”
Primeiro quero paralisa-la pelo artigo e concordar que já não vivemos o mesmo cenário que tÃÂnhamos a um tempo atrás isso porque ate pequenos acidentes tendemos a recorrer ao médicos ao em vez de recorrer ao uso de plantas caseiras. Mas não será pelo facto de não termos essas plantas no quintal? É discutÃÂvel.
Parabéns Gina pelo artigo, é elucidativo.
Deixa claro que as mudanças climáticas já se fazem sentir no nosso viver.
É tempo para todos (idosos com sua experiência e cientistas) se unirem para formar uma resiliência no conhecimento sobre a matéria por forma a estarmos prontos para adaptação e mitigação às mudanças climáticas.
Bem hajam artigos que nos alertam de coisas que podem ser tratadas em todos os nÃÂveis
Cacana não é planta trepadeira, mas sim que se estende, cresce entre outras plantas e ervas daninhas, mas nem se entrelaça com elas. A videira é planta típica trepadeira. Concordo com as propriedades medicinais aqui mencionadas, até mais…
Saudações a todos…procuro planta de espinheira santa em Maputo.
Meu contacto 850759678
Parabéns pelo artigo. Não só as mudanças climáticas, mas também o modernismo veio melhorar e estragar outras coisas. A sociedade africana não sabe acolher os bons feitos e rejeitar os mãos. É por essa razão que sofremos tanto!!