Moçambique: Primeiras nas medalhas, ausentes na direcção desportiva


Date: January 31, 2013
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Maputo, 31 de Janeiro de 2013 À“ As mulheres moçambicanas jÁ¡ atingiram vÁ¡rias vitórias regionais, continentais e internacionais a nÁ­vel do desporto, mas essas vitórias ainda não se traduziram em mais mulheres nos cargos de direcção nas diversas federaçÁµes nacionais.

No chamado desporto-rei, o futebol, apenas hÁ¡ uma mulher no actual elenco directivo da Federação Moçambicana do Futebol. Na natação, existe uma mulher a exercer funçÁµes de directora-executiva. No atletismo, onde o paÁ­s se destacou com medalhas olÁ­mpicas conquistadas pela meio-fundista Lurdes Mutola, hÁ¡ uma presidente demissionÁ¡ria. A modalidade que por duas vezes elegeu mulheres ao cargo de presidente da federação é a de xadrez.

Mas o cenÁ¡rio de mulheres em cargos de direcção termina aÁ­; nas mais de 20 modalidades existentes no paÁ­s, não hÁ¡ nenhuma mulher nos cargos de direcção. O caso paradoxal é o de netball! O netball   apenas movimenta mulheres mas a direcção é toda ela ocupada por homens.

E o caso mais gritante é o de basquetebol. O basquetebol feminino é a disciplina olÁ­mpica colectiva que mais vezes elevou o nome de Moçambique a nÁ­vel continental. A recente conquista pela Liga Muçulmana de Maputo da Taça dos Clubes CampeÁµes Africanos elevou para cinco o número de taças conquistadas em tÁ­tulos de clubes seniores femininos contra quatro do gigante Senegal. As selecçÁµes femininas também jÁ¡ conquistaram vÁ¡rias medalhas.

Mas se pensavam que hÁ¡ alguma mulher na direcção da Federação Moçambicana do Basquetbol estão enganados. Nenhum elenco da federação do basquetebol pensou até hoje em incluirr sequer uma mulher na sua direcção para ajudar no desenvolvimento da modalidade.

Apesar do Protocolo da SADC sobre o Género e Desenvolvimento não mencionar directamente o desporto, fala de até 2015 atingir-se uma paridade de género nos cargos de tomada de decisão, isto é, haver um número igual de homens e mulheres.

É preciso recordar que o Protocolo da SADC sobre Género e Desenvolvimento surge em resposta da constatação de que a maioria das mulheres na região da SADC não gozam da liberdade de pensamento e acção, propÁ­cias para o avanço pessoal, porque tradicionalmente são vistas como subordinadas ao homem. As mulheres ainda são confrontadas com inúmeras barreiras legais, polÁ­ticas, económicas, sociais e culturais que afectam negativamente a sua plena participação como membros das suas respectivas sociedades.

DaÁ­ os estados membro da SADC terem adoptado o Protocolo no sentido de se alterar esse cenÁ¡rio através da transformação das estruturas das instituiçÁµes sociais, tais como a famÁ­lia e comunidade, sendo o desafio elevar a posição da mulher na hierarquia social do actual nÁ­vel, para o nÁ­vel em que o homem se encontra.

No actual estÁ¡gio, a mulher aparece como beneficiÁ¡ria passiva das acçÁµes dos homens. Mas é urgente que ela seja colocada nos cargos directivos de modo a que os seus interesses estratégicos sejam alcançados. DaÁ­ que, ela deve sair da posição de beneficiÁ¡ria passiva para a de actora no processo que visa mudanças estruturais.

Apesar de as federaçÁµes serem entidades privadas de direito, é preciso que o governo moçambicano encoraje as federaçÁµes a incluir mais mulheres nos seus elencos directivos. A polÁ­tica nacional do desporto deve ser revista para incluir esta posição.

Todavia, esta não deve ser apenas um trabalho do governo. As organizaçÁµes de sociedade civil devem também levar a cabo campanhas de sensibilização no sentido de chamar atenção Á s federaçÁµes para incluir mulheres nos cargos de direcção.

Se necessÁ¡rio, que se estabeleçam quotas, isto é, nenhuma lista electiva que não tente mostrar paridade deve ser aprovada.

Para além de que seria um reconhecimento pela sua actividade competitiva e patriótica, seria um reconhecimento de elas também têm capacidades de liderança não só dentro dos campos mas nos cargos executivos.

AliÁ¡s, colocÁ¡-las no centro de tomada de decisÁµes vai reflectir a composição do género na nossa sociedade, o que provavelmente irÁ¡ garantir que os interesses e necessidades especÁ­ficas da mulher ganhem a visibilidade desejada na agenda do desporto nacional.

Não faz absolutamente sentido nenhum que as mulheres continuem a trazer ao paÁ­s momentos de glória através da conquista de medalhas, mas quando se trata de serem representadas nos cargos de direcção sejam excluÁ­das.

Este artigo faz parte do Serviço Lusófono de Opinião e ComentÁ¡rio da Gender Links.


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