Moçambique: RÁ¡dios ComunitÁ¡rias e vozes marginalizadas


Date: December 27, 2012
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Maputo, 26 de Dezembro de 2012 À“ Apesar de o Protocolo da SADC sobre Género e Desenvolvimento estabelecer como meta de igualdade e equidade do género nos meios de comunicação social até 2015, o último barómetro da sociedade civil sobre o protocolo constata que continua a prevaleceu um desequilÁ­brio no que tange Á  distribuição das fontes de informação das variadas instituiçÁµes dos média.

Produzido pela Gender Links, o barómetro é um documento que monitora a implementação do Protocolo sobre o Género e Desenvolvimento. “Uma monitoria adicional de 30 redacçÁµes conduzida em Julho de 2011 revelou que em média a proporção de fontes femininas continua a ser de 19 porcento,À lê-se no Barómetro de 2012.

Essa percentagem de 19 porcento corrobora os resultados de um outro estudo realizado em 2010, o Gender and Media Progress Study. Ademais, estando nos finais de 2012, o resultado devia servir de aviso de que mais trabalho precisa ser feito de modo a que se atinja a meta de até 2015 as fontes femininas perfaçam 30 porcento to total das fontes.

Se no sector dos média tradicionais a voz das mulheres continua a não se fazer ouvir, qual serÁ¡ o cenÁ¡rio nas rÁ¡dios comunitÁ¡rias cuja maioria em média localiza-se nas zonas rurais? A minha preocupação reside no facto de que as tais ditas normas culturais que perpetuam a dominação masculina parecem ser mais enraizadas em locais mais ruralizados.

O normal nesses locais é as mulheres e crianças serem silenciadas À“ longe dos olhares e longe das mentes, como soi dizer. Isso pressupÁµe que seria nas rÁ¡dios comunitÁ¡rias onde haveria maior resistência mormente Á  questão de dar voz aos marginalizados.

Porém, as rÁ¡dios comunitÁ¡rias também parecem ter os mesmos problemas que as média tradicionais. Por exemplo, hÁ¡ poucas mulheres nos lugares de tomada de decisão, segundo um relatório da FORCOM (Fórum da Rede das RÁ¡dios ComunitÁ¡rias). Talvez porque o pessoal das rÁ¡dios comunitÁ¡rias é voluntÁ¡rio, também são poucas as mulheres repórteres devido Á s vÁ¡rias razÁµes, entre elas os programas que não incentivam a participação de mulheres; namorados ou maridos que obrigam a mulher a desistir.

Se nas rÁ¡dios comunitÁ¡rias hÁ¡ poucas mulheres, isso apenas pode significar uma coisa: as questÁµes de género e os problemas particulares das mulheres são passados de lado como acontece nos médias tradicionais.

E se tomarmos em conta que o grosso das rÁ¡dios comunitÁ¡rias situa-se nas zonas rurais, é possÁ­vel chegar Á  conclusão de que as vozes das mulheres são também marginalizadas com base em justificaçÁµes de tradição, isto é, usa-se o modelo cultural androcrÁ¡tico cuja caracterÁ­stica é discriminar a mulher.

Em verdade, é bem possÁ­vel que nas rÁ¡dios comunitÁ¡rias, locais que em virtude de serem rÁ¡dios pró-desenvolvimento comunitÁ¡rio, a situação seja pior, principalmente pelo facto de elas estar inseridas em zonas rurais.

Portanto, o mais importante é talvez fazerem-se estudos mais concretos que possam nos mostrar até que ponto as mulheres não são discriminadas como fontes nas rÁ¡dios comunitÁ¡rias. E se constatar que de facto essa é a realidade, responsabilizar a FORCOM a procurar formas de inverter esse cenÁ¡rio.

Caso contrÁ¡rio, continuar-se-Á¡ a não se envolver mais de metade da população moçambicana nos processos de desenvolvimento do paÁ­s porque as vozes femininas também são relevantes.

Bayano Valy é o Editor do Serviço Lusófono da Gender Links. Este artigo faz parte do Serviço Lusófono da Gender Links.


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