
Moçambique volta mais uma vez a estar no centro de atençÁµes do mundo por causa de mais uma calamidade natural. Todavia, faltando nos discursos é a ligação entre as cheias e as mudanças climÁ¡ticas.
Essa constatação resulta do facto de que as mudanças climÁ¡ticas geram mudanças nos padrÁµes de temperaturas e precipitação, impactando sobre a saúde dos ecossistemas, produtividade agrÁcola, saúde humana, perda da biodiversidade, entre outros.
Existem momentos que apesar da profunda tristeza que mergulham uma sociedade, podem e devem ser usados para se efectuar mudanças sociais – as cheias que se registam em Moçambique e parte da África Austral podem ser um ponto de partida para mudanças sociais.
Diversos estudos mostram que calamidades naturais têm um maior impacto sobre mulheres e crianças do que sobre os homens devido Á sua situação de vulnerabilidade. Só em Moçambique morreram mais de 40 pessoas, mas apesar de nem as autoridades nem a comunicação social terem-nos dado uma desagregação dos mortos por sexo e idade, pode se arriscar que a maioria deve fazer parte do grupo mulheres e crianças.
A descoberta e exploração de jazigos de carvão e gÁ¡s encerra boas perspectivas de desenvolvimento para Moçambique. Porém, hÁ¡ questÁµes a que os moçambicanos se devem ater sob o risco de essas descobertas e exploraçÁµes criarem mais problemas do que desenvolvimento, sobretudo para as mulheres e crianças.
Ninguém pode certamente duvidar do impacto dos mega-projectos. Os mega-projectos são transformadores, isto é, alteram s vida das comunidades locais (para o bem ou mal); mudam a geografia local de forma rÁ¡pida e visÁvel, entre outros.
A comunicação social moçambicana e internacional estÁ¡ cheia de casos diÁ¡rios de violência baseada no género, e particularmente sobre a violência contra a mulher, mas raramente se fala de como as vÁtimas de violência lidaram com os efeitos dessa mesma violência.
A violência contra a mulher é um problema mundial e constitui uma das principais barreiras ao esforço da humanidade, na construção de um mundo de harmonia, amor, fraternidade e respeito pela igualdade de direitos entre homens e mulheres, num contexto de famÁlias estÁ¡veis, que sejam de facto, bases sólidas que promovem e sustentam o desenvolvimento dos paÁses.
As mulheres moçambicanas jÁ¡ atingiram vÁ¡rias vitórias regionais, continentais e internacionais a nÁvel do desporto, mas essas vitórias ainda não se traduziram em mais mulheres nos cargos de direcção nas diversas federaçÁµes nacionais.
No chamado desporto-rei, o futebol, apenas hÁ¡ uma mulher no actual elenco directivo da Federação Moçambicana do Futebol. Na natação, existe uma mulher a exercer funçÁµes de directora-executiva. No atletismo, onde o paÁs se destacou com medalhas olÁmpicas conquistadas pela meio-fundista Lurdes Mutola, hÁ¡ uma presidente demissionÁ¡ria. A modalidade que por duas vezes elegeu mulheres ao cargo de presidente da federação é a de xadrez.
O laço vermelho normalmente em evidência no dia 1 de Dezembro simboliza a solidariedade para com pessoas vivendo com HIV e SIDA. Se muitos usam-no apenas no dia das celebraçÁµes, hÁ¡ quem a solidariedade é materializada diariamente.
A solidariedade entre as pessoas vivendo com HIV e SIDA é uma reconstituição da vida social e ligaçÁµes sociais, das quais muitos talvez foram privadas no dia em que revelaram o seu estado de seropositividade.
As vitórias internacionais do bÁ¡squete feminino moçambicano colocam o desporto, o jornalismo, a sociedade e a polÁtica doméstica perante um desafio: o da equidade ou se quisermos da justiça de género.
Varias tem sido as medidas visando a reintegracao familiar daquela, que é duplamente vitima, primeiro por se ter casado cedo (sem nenhuma acção criminal ao homem que abusou da menor, ainda que sua esposa – recorde-se da definicao de abuso sexual de menores), forçada, depois por vivenciar limitação patológica e rejeição a nÁvel social (ainda no quadro de GBV).
Importa referir que apesar de alguns ganhos entre os varios paises, visando maior autonomia legislativa e operativa, é necessaria uma clara definição dos objectivos a cada nivel, papel de cada membro , seu nivel de cometimento, a questao de praticas culturais enraizadas, monitoria dos projectos e planos, prazos de implementação dos programas e projectos, sustentabilidade após o seu término.
As leis são feitas para se adequar ao comportamento das pessoas, isto é, quando a sociedade muda, as leis também devem mudar. Vai daÁ que fica estranho que leis que datam do Século XIX ainda sejam usadas para julgar certas prÁ¡ticas criminais.
A questão é simples: as sociedades são dinâmicas e por isso hÁ¡ sempre necessidade de se regular a diversidade das condutas e relaçÁµes humanas. Não é por acaso que, por exemplo, se estÁ¡ a fazer a anÁ¡lise do actual Código Penal com mais de 125 anos por se considerar que o mesmo tornou-se obseleto e não estÁ¡ Á altura de regular certas relaçÁµes sociais.
Os anúncios recentes de que os parceiros de cooperação vão cortar parcial ou totalmente o seu apoio financeiro nos esforços tendentes a parar e reverter a propagação do vÁrus do HIV e SIDA não podiam ter surgido numa mÁ¡ altura.
Apesar das estatÁsticas oficiais (INSIDA) indicarem que a taxa de prevalência reduziu de 16.4 porcento para 11.5 porcento, o cenÁ¡rio continua preocupante. Na vila fronteiriça de Namaacha estima-se que 16 mulheres em cada 20 testadas estão infectadas.