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Maputo, 18 de Agosto de 2012 À“ Embora nobres, os esforços regionais tendentes a promover a igualdade e equidade do género continuam a pecar por não se ver o homem como parte da solução e não apenas como parte do problema.
É verdade que o discurso sobre o género tem sido alimentado por teorias feministas, que procuram subverter a ordem vigente, isto é, atacam a estrutura da relação de poder entre o homem e a mulher.
A realidade é de que as relaçÁµes do género são ainda em grande parte determinadas a partir de uma visão androcêntrica que coloca o homem no lugar de premência no mundo. Portanto, o poder reside no homem e a mulher assume um papel de subalternidade.
É essa visão do homem que faz com que certos homens julguem as mulheres sua propriedade para fazer e desfazer. E uma das formas de fazer e desfazer é as violentando.
DaÁ que, se, por exemplo, a maior parte dos crimes de violência doméstica são perpetrados pelos homens, porque não envolve-los na compreensão e resolução do fenómeno de violência doméstica? A realidade mostra que em larga medida os homens são simplesmente ignorados nos esforços empreendidos para a solução do fenómeno.
Mas onde houve um envolvimento dos homens no combate Á violência doméstica e violência de género, e promoção da equidade e igualdade de género têm-se logrado bons resultados, como atestam os casos de Brasil e Estados Unidos da América.
O envolvimento do homem trouxe consigo uma outra forma de abordar as questÁµes do género, sendo que, pela primeira vez o homem começou também a questionar os padrÁµes da sua própria socialização.
Uma das causas da violência do género e doméstica apontada em vÁ¡rios paÁses, incluindo Moçambique, tem que ver com a socialização masculina e uma das soluçÁµes propostas para o combate a este mal é o envolvimento de homens. Pretende-se um processo reflexão sobre o modelo de socialização masculina vigente na sociedade, o que lhes permitirÁ¡ apurar, o quanto algumas normas sociais podem conduzir Á prÁ¡ticas nocivas, como, por exemplo, a violência e podem também atrasar o desenvolvimento.
Em Moçambique por exemplo, ainda que incipientes os esforços neste sentido, alguns resultados imediatos jÁ¡ se notam, como, por exemplo, a aderência cada vez mais crescente de homens em iniciativas contra a violência do género promovidas pela Rede Homens Pela Mudança, Programa de Televisão “Homem que é HomemÀ e outras organizaçÁµes nacionais e internacionais. Este é um pequeno passo e encorajador de muitos e longos a serem dados e mostra que a mudança é possÁvel.
Os actos de violência não acontecem apenas em Moçambique. A triste realidade mostra que a violência doméstica e violência do género acontecem um pouco por toda a África Austral. Alguns delegados da Sociedade Civil provenientes de alguns paÁses da SADC (África do Sul, MadagÁ¡scar e Malawi) reunidos em Maputo, a margem das reuniÁµes que antecedem a cimeira dos Chefes de Estados da região, disseram que as mulheres nos seus paÁses são as que mais sofrem violência e destacaram igualmente as violaçÁµes sexuais que em algumas das vezes estão relacionadas com as crenças erradas que homens infectados com o vÁrus de HIV podem se curar bastando para tal manterem relaçÁµes sexuais com virgens; agressÁµes fÁsicas; e assassinatos, estes, muitas vezes movidos por ciúmes quando se tratar de maridos ou namorados e por vezes estão relacionados as violaçÁµes sexuais cometidas por desconhecidos.
Os paÁses da SADC, são constituÁdos por sociedades na sua maioria patriarcais. Os homens, desde cedo são educados a serem a voz de comando ou seja, superiores Á s mulheres, o que muitas vezes propicia para que alguns deles façam o uso deste privilégio que a sociedade deu para cometer actos que atentam aos direitos humanos das mulheres e sem se darem conta de que estes problemas contribuem sobremaneira para o aumento da pobreza nos nossos paÁses.
Por outro lado, fica claro o fraco conhecimentos dos instrumentos nacionais e regionais (como o Protocolo da SADC sobre o Género e Desenvolvimento que advoga a implementação de leis visando a eliminação de todas as formas de violência baseada no género, entre outros) sobre direitos humanos por parte de homens e mulheres, o que constitui também um factor muito importante de violaçÁµes constantes dos mesmos e sem que haja alguma cobrança e ou reacçÁµes significativas para pôr termo ao problema.
É minha opinião humilde que deve haver um esforço concertado na SADC que vise levar os paÁses da região a adoptarem mecanismos oficiais de envolvimento dos homens na promoção da igualdade e equidade do género.
Deixar a tarefa da promoção da igualdade e equidade do género apenas nas mãos de um grupo parece-me um trabalho de Marracuene.
Gilberto Macuacua é um activista social. Este artigo faz parte do Serviço Lusófono de Opinião e ComentÁ¡rio da Gender Links
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