
SHARE:
O President sul-africano Jacob Zuma fê-lo novamente, mas desta vez, tomando em conta que estamos em contagem decrescente para as eleiçÁµes de 2014, não deve ser permitido escapar com gafes embaraçosos que são contra a Constituição sul-africana.
Durante a sua tomada de posse, em Maio de 2009, fui objecto da ira de muitos na sequência duma carta aberta ao presidente intitulado “EstÁ¡ apto para a presidência, Sr Presidente?À Nessa carta, sugeria que um presidente polÁgamo absolvido de acusaçÁµes de estupro com ideias preocupantes sobre direitos de mulheres estÁ¡ em contradição com os dispositivos progressistas da nossa Constituição. Argumentei que o teste da liderança vai além das tecnicalidades legais.
O meu apelo para que abandonasse o poder radicava das suas afirmaçÁµes e comportamento sexistas. Como se pode esperar da nossa sociedade altamente patriarcal, o poder do Congresso Nacional Africano (ANC), duma comunicação social dominada por homens, e vÁ¡rias outras estruturas do estado, se fez sentir sobre esta voz dissidente visto que a África do Sul se preparava para uma boa festa.
Na semana passada, o nosso impenintente presidente atingiu grandes alturas com o seu comentÁ¡rio de que os sul-africanos não se devÁam pensar como “africanos em ÁfricaÀ, e que as auto estradas em Joanesburgo são diferentes das estradas nacionais no Malawi (epitomando o atraso do resto de África?).
A presidência disse-nos que as palavras foram descontextualizadas e que o Presidente pediu desculpas ao seu homólogo malawiano e a única mulher Chefe de Estado na SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral), Joyce Banda, a actual presidente do órgão regional.
Nenhuma maquilhagem usada pelo porta-voz presidencial Mac Maharaj para disfarçar esta nua e crua afirmação de imperialismo cultural pode esconder a verdade. A posição de Maharaj é sumarizada numa caricatura que ilustra-lhe em nós de tal sorte que não se vê o seu rosto.
Se o Presidente da África do Sul acredita que os seus concidadãos não são africanos em África, não é por acaso que actos cobardes de xenofobia ocorrem em bairros pobres onde os sul-africanos ressentem-se dos trabalhadores imigrantes da região austral muitas vezes dando no duro, com pouca importância dada aos muitos sul-africanos que se refugiaram na região contra a violência do racismo de brancos durante os anos do apartheid.
Os ismos e fobias de todas as descriçÁµes partilham uma raiz comum À“ uma falsa superioridade do tipo de que na sua linda prosa sobre igualdade e justiça a nossa Constituição procura abolir. Quer estamos a falar de um presidente que pensa que pode casar tantas mulheres que quiser (nem pensar que elas possam casar tantos maridos também) ou força-se sobre uma mulher jovem o suficientemente para ser sua filha, quer ele acredita não ter nada em comum com os pobres malawianos, hÁ¡ um traço comum: poder, seu uso e abuso.
Independentemente de todas as suas falhas, não se pode imaginar o antigo presidente Thabo Mbeki cometendo o erro de referir-se aos vizinhos africanos em tons depreciativos. Tinha alguma autoridade moral em levar a África do Sul a liderar a Renascença Africana. Até pode justificadamente reclamar estar a liderar a luta pela próxima revolução À“ igualdade de género À“ porque na sua vida privada e pública, ele mostrou respeito pelos direitos das mulheres.
Como disse uma vez a antiga vice-presidente Phumzile Mlambo-Ngcuka, agora directora-executiva da ONU Mulheres: “pode-se contar nele (Thabo Mbeki) para estar do lado certo do argumentoÀ no toca aos direitos das mulheres.
As notÁcias da semana passada lembraram-nos do disconfortÁ¡vel assunto de Zuma ser absolvido de acusaçÁµes de estupro com o lançamento das memórias do então Procurador Geral Vusi Pikoli. Ele disse que embora tenha aceite o veridicto, não podia compreender como o ANC não efectuou um inquérito disciplinar sobre a conduta inaceitÁ¡vel de Zuma À“ atirar-se sobre a filha dum camarada À“ e não protegê-la dos ataques que resultaram no seu exÁlio.
“Fiquei enjoado com o comportamento e isso magoou-me,À escreve no seu livro, My Second Initiation. “Alguém devia se opôr e dizer: ‘não em nosso nome’. Estou a fazê-lo agora,À acrescentou.
Sejamos honestos: ao longo dos últimos quatro anos o discurso do género na África do Sul piorou. Imagens de homens ricos casando cinco mulheres duma vez ou fazer festas onde comem sushi das barrigas de mulheres nuas adornam os nossos jornais dominicais sem sequer um pouco de comentÁ¡rio crÁtico.
A Liga Feminina do ANC, que não conseguÁu indicar uma terceira opção À“ uma candidata À“ na luta pelo poder entre Zuma e Mbeki (dando o seu voto Á Zuma) declarou que a África do Sul não estÁ¡ pronta para ter uma mulher presidente! Como Franz Fanon ou Steve Biko poderÁam ter-nos dito, o teste de fogo do colonialismo é a medida a qual o opremido internaliza a sua própria opressão. A Liga Feminina do ANC, nalgum momento um farol de esperança num mar de estruturas polÁticas femininas fracas, jÁ¡ nem acredita em si!
Muitos dos sinais eram visÁveis quando Zuma ascendeu ao poder. A democracia ditou que ps ignorÁ¡ssemos, aceitando a “vontade do povoÀ, e dar-lhe uma chance. A democracia também deu-nos o direito de perguntar de novo, especialmente quando se prepara para um segundo termo: “EstÁ¡ apto para liderar esta nação, Presidente Zuma?À
Digo: gato escaldado de Á¡gua fria tem medo! A não concorrer na corrida eleitoral, Zuma havia de permitir que o ANC reclamasse a sua antiga autoridade moral, antes que seja tarde demais. Existe alguma dúvida de que é isto que os fundadores e fundadoras do partido desejarÁam? África do Sul, acorde!
Colleen Lowe Morna é a PCA da Gender Links. Este artigo é parte do Serviço de Opinião e ComentÁ¡rio da GL que oferece pontos de vista frescos sobre notÁcias diÁ¡rias
Comment on África do Sul: É altura do Presidente Zuma abandonar o poder