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Maria Dimande, 55 anos, tem orgulho de levar os filhos a universidade por vender pimenta verde no mercado da Malanga, cidade de Maputo, embora tenha lembranças tristes de não ter conseguido acesso ao crédito bancÁ¡rio para iniciar o negócio. Dimande teve a iniciativa de vender a pimenta verde quando o marido lhe abandonou e, foi se juntar a uma outra mulher, deixando-a a responsabilidade de cuidar 5 filhos: garantir a manutenção na escola, saúde, educação, atenção. Foi em 2000.
Graças a este negócio, o filho mais velho fez a universidade. É farmacêutico. As meninas estão casadas e o mais novo jÁ¡ concluiu o pré-universitÁ¡rio e estÁ¡ a preparar-se para ingressar no ensino superior.
Primeiramente, media a pimenta num saco que estendia no chão, no concorrido mercado da Malanga, cidade de Maputo. Conseguia vender 300 a 500 meticais por dia e o lucro não ultrapassava 200 meticais.
“Com este valor, comprava alimentos para o dia, porque não conseguia fazer o rancho mensal. Outro dinheiro pagava o transporte para os meninos chegarem a escola. Era difÁcil. Mas foi possÁvel sobreviver”, disse Dimande.
Expansão do negócio
Dimande expandiu o seu negócio em 2004, quando conseguiu uma banca, dois metros de largura. “Vendo também pepino e feijão verde e os lucros aumentaram. Por isso, envolvi a minha filha no negócio para melhor satisfazer a clientela”, explica.
Por dia, por exemplo, compra e revende 50 quilogramas de pimenta verde. O fornecedor vende-lhes o quilograma do produto a 10 meticais.
“Na maioria dos dias, conseguimos comercializar todo o produto a 20 meticais cada quilo. Temos tido lucros encorajadores, embora com algumas dificuldades quando aparece muito pimento danificado”, aponta Dimande.
Os produtos são adquiridos no mercado grossista Zimpeto, bairro do mesmo nome, a cerca de 15 quilómetros da cidade de Maputo. Por cada saco de 50 quilogramas de qualquer que seja o produto o transportador cobra 35 meticais. HÁ¡ vezes que a pimenta chega ao mercado danificada porque o transportador coloca produtos mais pesados por cima e porque é sensÁvel quebra-se. “e quando é assim eu que fico com o prejuÁzo”, desabafa.
Ajuda do xitique
Não foi fÁ¡cil Dimande iniciar o negócio porque não tinha dinheiro. Procurou ajuda de algumas amigas que jÁ¡ vendiam no mercado e falaram-lhe da possibilidade de empréstimo bancÁ¡rio nos bancos de microfinanças. O seu pedido não foi aceite porque não tinha bens para garantir a devolução do valor. Queria apenas dois mil meticais para iniciar o negócio.
“Vivia numa casa de caniço, quarto e sala. Não tinha cama, televisor ou mesa que servisse de garantia”, explica Dimande. “Xitique (uma forma de poupança informal) é que salvou-me. Consegui empréstimo, poupei dinheiro e mensalmente devolvia ao respectivo proprietÁ¡rio”, disse Dimande.
Xitique é um tipo de crédito informal que facilita o acesso ao empréstimo, a taxa acessÁveis, poupança sem a burocracia das instituiçÁµes bancÁ¡rias. É feito com base na confiança de alguém, que se julga idóneo pelos informais, que colecta e guarda o dinheiro de todos numa única conta bancÁ¡ria de sua pertença.
Actualmente Dimande estÁ¡ envolvida em vÁ¡rios Xitiques. HÁ¡ um que deposita 100 meticais por dia e recebe o valor uma vez por ano, cerca de 36 mil meticais. “Com este dinheiro aumento a quantidade de produtos para vender no mercado e compro bens para a minha casa”, fez saber Dimande.
Contou ainda que estÁ¡ envolvida em outro xitique de 10 a 20 meticais por dia. “Este é mais dinâmico porque recebo o valor mensalmente. Este dinheiro ajuda-me a manter-me no negócio e comprar coisas pontuais”.
Com o filho mais velho a trabalhar, a vida de Dimande tornou-se mais fÁ¡cil. O filho ajudou-a a construir uma casa tipo 3, no bairro da Maxaquene, arredores da cidade de Maputo. ” JÁ¡ tenho energia eléctrica em casa e sinto-me feliz e realizada”, refere.
A não valorização da mulher
Dimande é exemplo de muitas outras mulheres que pouco a pouco ganham dinheiro no mercado informal, mas que o seu trabalho não é reconhecido, só por serem mulheres.
“A grande ausência de valoração do papel da mulher é causada pela caracterÁstica androcêntrica e patriarcal da economia que coloca a mulher como um agente que facilita o processo de desenvolvimento económico, mas não a mulher como agente económico”, explica o Fórum Mulher.
Segundo o Fórum Mulher, a luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres estÁ¡ ainda longe de ser alcançada. Os direitos económicos das mulheres continuam a ser um dos temas de grande discussão. O papel da mulher na economia continua a ser marginalizado e atribuÁdo por pouco valor, mesmo sendo ela a que possui mais encargos sociais e familiares.
A população economicamente activa em Moçambique é de cerca de seis milhÁµes de pessoas, constituÁda marioritariamente por trabalhadores por conta própria, mais de 50% e trabalhadores familiares não remunerados, segundo o Instituto Nacional de EstatÁstica.
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