Moçambiqu: Vivendo em solidariedade


Date: January 31, 2013
  • SHARE:

Normal 0 false false false EN-US X-NONE X-NONE MicrosoftInternetExplorer4

Maputo, 31 de Dezembro de 2012 À“ O laço vermelho normalmente em evidência no dia 1 de Dezembro simboliza a solidariedade para com pessoas vivendo com HIV e SIDA. Se muitos usam-no apenas no dia das celebraçÁµes, hÁ¡ quem a solidariedade é materializada diariamente.

A solidariedade entre as pessoas vivendo com HIV e SIDA é uma reconstituição da vida social e ligaçÁµes sociais, das quais muitos talvez foram privadas no dia em que revelaram o seu estado de seropositividade.

Ademais, é um ganho simbólico na luta pelo reconhecimento num ambiente de incertezas com relação Á s suas chances de sobrevivência e riscos causados pela seropositividade. Por um lado, a solidariedade é um meio que as pessoas vivendo com HIV e SIDA podem usar para mobilizar recursos que os possibilitam agir num ambiente de incertezas médicas e económicas, e dotÁ¡-los de conhecimentos e boas prÁ¡ticas que são fulcrais Á  sua sobrevivência fÁ­sica e social.

Na cidade fronteiriça de Namaacha, existe um grupo maioritariamente composto por mulheres que vivem com o vÁ­rus do HIV e SIDA; essas mulheres fundaram em 2022 uma associação, a Associação Tiyane (Coragem). Lina Sitoi de 37 anos disse que a sua organização tem como filosofia o auto-apoio.

Quando a Tiyane começou, Sitoi diz que vÁ¡rias pessoas que acabavam de conhecer o seu estado de seroprevalência suicidavam-se. Porém, devido Á  sensibilização e tratamento doméstico as pessoas que vivem com HIV e SIDA jÁ¡ encaram o seu estado com esperança e optimismo e jÁ¡ não se suicidam.

Também contribuiu o facto de os habitantes de Namaacha estarem sensibilizados ao ponto de não discriminarem as pessoas vivendo com HIV e SIDA. Ademais, a associação também produz alimentos que são distribuÁ­dos entre o grupo, para além de que alguns dos alimentos são vendidos para garantir a sua sustentabilidade.

A questão da alimentação é importante na medida em que o tratamento anti-retroviral requer que as pessoas vivendo com HIV e SIDA se alimentem adequadamente de modo a que o tratamento surta o efeito desejado.

Este exemplo mostra que algumas intervençÁµes estão a funcionar e as boas prÁ¡ticas e respostas comunitÁ¡rias na luta contra o HIV e SIDA precisam de ser encorajadas e replicadas. As pessoas devem ver e saber que a infecção com o vÁ­rus não significa o fim da vida, mas que significa que devem viver vidas positivas e que com mais redes de solidariedade é possÁ­vel devolver normalidade em suas vidas.

E é necessÁ¡rio que o governo continue a encorajar esforços de descentralização das respostas. Não se pode pensar que uma medida pode servir a todos. Cada região, provÁ­ncia, distrito ou localidade deve ser encorajada a encontrar a melhor forma de lidar com o HIV e SIDA.

A Tiyane mostra também que grupos de apoio e solidariedade representam um movimento social com capacidade para moldar a natureza da indústria de HIV e SIDA em Moçambique. É que se mais e mais grupos dessa natureza puderem tomar as rédeas do seu destino, teremos que repensar a forma como os recursos são canalizados e distribuÁ­dos À“ talvez uma das formas de melhor se lidar com a doença seja de se empoderar as pessoas vivendo com o HIV e SIDA; quem melhor do que elas sabe o que é bom para elas?

Esta não serÁ¡ uma nova abordagem. Na Declaração PolÁ­tica moçambicana de luta contra o HIV, o governo fala de se redobrar esforços a “nÁ­vel da liderança politica, para contribuir para a aceleração das acçÁµes e abertura para formas inovadoras de gerir e reagir Á  epidemia, bem como e sobretudo com fórmulas ousadas de financiamento da resposta a partir de fontes domésticas, assegurando assim a sustentabilidade das acçÁµes.À

Portanto, hÁ¡ que se aproveitar experiências de solidariedade como as da Tiyane não só para se fazer face ao défice dos recursos humanos, como também para se racionalizar cada vez mais os recursos financeiros.

A equação é delicada mas num cenÁ¡rio em que a contribuição externa na luta contra a pandemia do HIV e SIDA vai certamente reduzir, conforme atestam os pronunciamentos dos parceiros de desenvolvimento, é necessÁ¡rio que se tome em conta todas as respostas domésticas, e intervençÁµes de grupos de solidariedade devem ser encorajados.

Não basta apenas usarmos o laço vermelho no dia mundial da luta contra o HIV e SIDA; a solidariedade deve ser corporizada nas nossas acçÁµes diÁ¡rias através da busca e encorajamento de soluçÁµes locais.

Bayano Valy é o Editor do Serviço Lusófono de Opinião e ComentÁ¡rio da Gender Links. Este artigo faz parte do Serviço de Opinião e ComentÁ¡rio da Gender Links



Comment on Moçambiqu: Vivendo em solidariedade

Your email address will not be published. Required fields are marked *