Moçambique: Banca trata mulheres como enteadas


Date: August 15, 2012
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Maputo, Agosto de 2012 À“ Apesar de vÁ¡rios estudos indicarem que mais mulheres do que homens pagam os créditos e juros dentro dos prazos, hÁ¡ evidências de que os bancos moçambicanos continuam a trata-las como “enteadasÀ no acesso ao crédito.

Não hÁ¡ constrangimentos legais para que as mulheres acedam ao crédito em Moçambique. Porém, segundo o governo moçambicano, muitas mulheres têm pouca informação sobre o acesso ao crédito e também porque as garantias que os bancos solicitam são muito pesadas. Em 2007, o governo introduziu programas de crédito para mulheres. Mas mesmo assim as mulheres representam apenas dez porcento dos quem têm acesso ao crédito no paÁ­s.

Uma das razÁµes apontadas para a “timidezÀ do sistema financeiro em conceder créditos a mulher é uma lógica bem antiga mas ainda muito dominante: os bancos pensam que as mulheres são um grande risco porque geralmente não têm fontes independentes e/ou não têm controle dos seus rendimentos.

Mas estudos mostram que onde os bancos concederam crédito Á s mulheres, a taxas de retorno foram altas.

A Presidente da Associação Moçambicana de Mulheres EmpresÁ¡rias e Executivas, ACTIVA, Ema Mossa, disse que os bancos moçambicanos tratam as mulheres como “enteadasÀ nas concessÁµes de créditos. Os homens, acrescenta, são tratados como “filhosÀ por terem emprego formal.

Mas apesar da maioria das mulheres estar na actividade informal, as mulheres são umas boas pagadoras. “A maioria das mulheres é tratada como ‘enteadas’ perante os bancosÀ.

Mossa disse que os juros cobrados pelos bancos estão acima de 28 porcento. Mas, segundo indicou, o problema não é que elas não pagarem, mas sim as condiçÁµes muitas das vezes impostas pela banca.

Ema Mossa que é proprietÁ¡ria de um estabelecimento vocacionada a venda de flores, disse que nunca se preocupou em procurar um crédito bancÁ¡rio pois isso tem as suas implicaçÁµes de juros. Diz que trabalha com as suas economias e tem estado a sobreviver.

Porém, alguns bancos, principalmente na Á¡rea de micro-finanças, começa a conceder algum crédito Á  mulher. O Banco Terra, uma instituição bancÁ¡ria com dois anos de existência e virada para o agro-negócio, lançou este ano um fundo de poupança solidÁ¡ria para minimizar as dificuldades que as mulheres enfrentam no acesso ao financiamento e ao crédito bancÁ¡rio.

Sem revelar a   carteira financeira e o número das mulheres envolvidas, o director comercial do Banco Terra, David Gerbrands, disse que cerca de 40 porcento dos clientes deste banco são mulheres e esta iniciativa, visa igualmente, suprir as dificuldades das mulheres no negócio.

“Como banco, temos parceiros para contornar esta situação. Estamos cientes das dificuldades e no âmbito de acordo de parceria com a Associação das Mulheres EmpresÁ¡rias e Empreendedoras, teremos produtos especÁ­ficos como por exemplo, para habitação, negócio e agriculturaÀ, disse.

“O fundo é visto como um instrumento que poderÁ¡ contribuir para o empandeiramento da mulher nos ambientes de negócio assim como garantir a educação e formação das empreendedoras e o aumento da rendaÀ, acrescentou.

Na Á­ndia, o Banco Central estabeleceu um guião para que os bancos comerciais concedam um mÁ­nimo de cinco porcento do total de crédito para as mulheres. Talvez essa seja uma via que o governo moçambicano pode adoptar para obrigar a banca comercial a mudar de pensamento e passar a conceder crédito Á s mulheres.

Conceder crédito Á s mulheres não é um favor. As mulheres gastam mais os seus rendimentos em aumentar as oportunidades que as suas famÁ­lias têm na educação e saúde, isto é, investindo na educação e saúde dos seus filhos.

Ademais, visto a maioria estar no sector informal e sendo este sector responsÁ¡vel por cerca de 70 porcento de empregos e cerca de 43 porcento do Produto Interno Bruto dos paÁ­ses da África sub-sahariana, faz mais sentido conceder crédito bancÁ¡rio Á s mulheres.

Continuar a tratÁ¡-las como “enteadasÀ   é continuar a perder dinheiro e não ajuda o desenvolvimento do paÁ­s.

ClÁ¡udio Saúte é repórter do semanÁ¡rio Canal de Moçambique. Este artigo é parte do Serviço Lusófono de Opinião e ComentÁ¡rio da Gender Links


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