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Tenho 30 anos de idade. Sou uma jovem viúva e mão de quatro filhos – três meninas de 12, dez e oito anos respectivamente, e um menino de cinco anos.
Meu esposo era dono de uma padaria, dois chapas e uma grande plantação de arroz. Quando ele começou a adoecer fiz tudo o que podia salvÁ¡-lo, procurei ajuda no hospital mesmo contra o desejo da sua famÁlia que achava que devÁamos levÁ¡-los aos curandeiros.
Os seus irmãos foram retirÁ¡-lo do hospital onde estava a começar a receber o tratamento anti-retroviral e o levaram para Muxenguentava onde conheciam um curandeiro que, segundo eles, não perdia nenhum paciente. Durante uma semana, J. Langa debate-se com a doença do SIDA ante o meu olhar enquanto rogava que o levassem de volta ao hospital, sem sucessos.
Quando se aperceberam da gravidade da sua doença, pegaram nele em plena madrugada e deixaram o seu corpo inerte em casa, na vila de Mandlakazi. Ainda tentei levÁ¡-lo ao hospital mas perdeu a vida pelo caminho.
Foi quando começou o dilema da minha famÁlia. Na mesma noite, antes que o enterrÁ¡ssemos, um dos meus cunhados foi Á padaria recolher a receita do dia e ordenou aos condutores dos dois chaparas para passarem a parquear os carros no seu quintal, tendo até obrigado os trabalhadores a procederem a colheita do arroz.
No princÁpio, pensei que ele estivesse a ajudar-me dada a situação em que me encontrava, mas paulatinamente fui-me apercebendo do que estava a acontecer.
Ainda no cemitério fui obrigada a levantar-me e entrar a cova para receber o caixão do meu marido porque me acusavam de ter sido eu a causadora da sua morte. Eu e os meus filhos só chorÁ¡vamos mas não havia nada que pudéssemos fazer.
Quando regressamos Á casa vimos que a sala estava vazia. A famÁlia do meu marido tinha recolhido todos os imóveis, e tudo de valor tinha desaparecido.
A minha famÁlia tentou repreender tal atitude mas foi-lhes dito que se reclamassem eu e os meus filhos corrÁamos o risco de perder a casa. Praticamente tive pouco tempo para chorar o meu marido porque a guerra nos tribunais não tardou a começar.
Quando o meu cunhado notou que eu não iria desistir de lutar pelo que era meu e dos meus filhos, propôs que para ultrapassarmos o assunto eu devia aceitar ser sua esposa para que a fortuna do meu marido continuasse nas mãos da famÁlia.
Neguei e com a ajuda da MUCHEFA (Associação Moçambicana para o Desenvolvimento da Mulher Chefe de FamÁlia), que preparou a minha defesa no tribunal, acabei ganhando a causa e a famÁlia do meu marido teve que devolver tudo o que me tinha tirado.
Esta estória faz parte da série das Estórias “Eu” produzidas pelo Serviço Lusófono de Opinião e ComentÁ¡rio da Gender Links para o 16 Dias de Activismo sobre Violência Baseada no Género.
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