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Maputo, Abril de 2012- Faz quase oito anos que Maria Marrengula compra e revende o peixe “magumba” na zona da Costa do Sol. Mas estÁ¡ “a pensar em arranjar um outro tipo de negócio porque este jÁ¡ não estÁ¡ a dar certo.”
A razão é uma: “Porque jÁ¡ não hÁ¡ magumba como antes. Este peixe estÁ¡ a escassear no mar.”
A compra e revenda de magumba é o único meio de sustento da viúva Marrengula, de 46 anos de idade, residente no bairro de Laulane e mãe de cinco filhos.
Segundo ela, houve bons momentos em que o seu esforço se justificava tendo em conta a margem do lucro que tinha como resultado da venda deste tipo de peixe, consumido maioritariamente pela população de baixa renda.
O lucro que era então suficiente para pagar as propinas dos filhos, todos eles em idade escolar, vai ficando cada vez difÁcil de obter, dificultando a vida visto o peixe jÁ¡ não sair nas mesmas proporçÁµes que antes e por vezes não se encontrar disponÁvel no mercado.
Devido ao mau tempo, principalmente chuvas e ventania, hÁ¡ dias em que os pescadores não se fazem ao mar e isso tem implicaçÁµes na vida das mulheres que dependem unicamente da venda deste produto pesqueiro para a sua sobrevivência, como é o caso da dona Maria.
A escassez do pescado significa que Marrengula acaba ficando mais tempo fora de casa. Dantes se podia obter a quantidade que desejava num único barco, hoje ela acaba perdendo tempo Á espera de quatro ou mais barcos de pescadores para poder completar a quantidade de peixe que ela necessita para vender.
Por conseguinte, ela tem tido pouco tempo para cuidar da sua casa e sua famÁlia. Esta situação cria, por sua vez, alguns murmúrios na vizinhança. Segundo ela, os vizinhos amiúde proferem palavras injuriosas contra ela, alegando que agora passa a maior parte do tempo fora de casa, não cuida bem da casa, que tem estado com homens, etc… isto tudo não a deixa confortÁ¡vel.
É este o quadro que ela vive no seu dia-a-dia. Contudo, existe uma razão cientÁfica para a escassez do pescado. O Ministério da Coordenação da Acção Ambiental diz que deve ser resultado das mudanças climÁ¡ticas, e é devido Á elas que algumas espécies marinhas tendem a escassear no mar. A magumba pode ser uma dessas espécies.
Isto remete-me a concluir que as mudanças climÁ¡ticas têm efeitos negativos tanto sobre a natureza como na vida das pessoas que dependem unicamente deste produto pesqueiro para sobreviverem. Por outro lado, se tomarmos em conta que a maioria destas pessoas são mulheres, e sobretudo o facto de os vizinhos agirem de forma ofensiva contra ela, pode se concluir que hÁ¡ uma clara demostração de que a vigência actual dos padrÁµes de género influencia negativamente os direitos humanos das mulheres. Esta questão se repete um pouco por todo o paÁs.
Provavelmente, se fosse o sexo oposto (homem) a chegar Á casa tarde vindo seja do trabalho ou outro lugar, seria visto como alguém que se esforça pelo bem estar da famÁlia e assim visto de forma positiva.
Infelizmente, não tenho dados estatÁsticos que nos possam esclarecer quantas mulheres têm como fonte de sobrevivência a venda de produtos pesqueiros. Porém, é sabido que são muitas. Quase que diariamente concentram-se na praia da costa do sol e depois de adquirirem a maguamba, espalham-se pelos bairros suburbanos da cidade e provÁncia de Maputo.
Esta situação preocupa-me bastante e acho que é importante que alguém de direito efectuasse uma pesquisa que mostre a dimensão real do problema do efeito das mudancas climÁ¡ticas na vida das mulheres moçambicanas como forma de persuadir os decisores a tomarem a sério a questao de protecção do ambiente visto que quanto Á mim existe uma clara ligação entre as mudanças climÁ¡ticas e o género.
Gina Matapisse é uma activista do género. Este artigo faz parte do Serviço de Opinião e ComentÁ¡rio da Gender Links, oferecendo-te novas perspectivas sobre notÁcias do dia-a-dia.
Comment on Moçambique: Mudanças climÁ¡ticas com efeitos negativos na vida das Mulheres.