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Maputo, 27 de Junho: O impacto das mudanças climÁ¡ticas estÁ¡ a ameaçar a sobrevivência das famÁlias moçambicanas que, na venda de mariscos, têm a sua fonte de rendimento. O aquecimento acima do normal, a secas e as cheias são apontados como os principais factores que condicionam a captura de mariscos nas Á¡guas do PaÁs.
O Coordenador dos Serviços Ambientais e Consultoria do Centro Terra Viva, Marcos Pereira defende a urgência de medidas tendentes a mitigar o impacto das mudanças climÁ¡ticas, na vida sócio-económica das pessoas que dependem da pesca artesanal.
Estudos referem que a degradação ambiental é uma realidade desde a década 70, no mundo, fazendo-se sentir nos nossos dias, a vÁ¡rios nÁveis.
Além da crÁtica ao padrão tecnológico, os mesmos estudos indicam que o modelo de desenvolvimento da sociedade industrial e a degradação ambiental contemporânea estão intrinsecamente relacionados e, com eles, a difusão dos problemas ambientais e seus impactos no planeta, não sendo moçambique uma excepção.
A desestabilização do sistema natural, como um todo, inclui a desordem do sistema climÁ¡tico em nÁvel global resultado do aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, nos tempos modernos.
Assim, são cada vez mais frequentes alguns dos desastres naturais que têm sido associados ao fenómeno da mudança do clima, tais como; os ciclones, as tempestades, as cheias e as secas que têm ocorrido em vÁ¡rias partes do mundo incluindo Moçambique.
Estes desastres, não só colocam em risco os ecossistemas como também ameaçam o rendimento de muitas famÁlias, tal como é o caso das que vivem dos rendimentos da actividade pesqueira.
A tÁtulo de exemplo, Marta Chiconela, de 60 anos, é uma dos milhares de mulheres moçambicanas que depende da venda de mariscos para a sua sobrevivência.
Entretanto, os desastres naturais que advindos das mudanças climÁ¡ticas, têm influenciado de forma negativa o negócio das famÁlias, tal como explica Marta Chiconela.
“Comecei a vender mariscos quando tinha cerca de 22 anos, nessa altura o meu marido dedicava-se Á actividade pesqueira e eu Á comercialização do peixe e do camarão. Mas com o passar do tempo, a captura ficou cada vez mais difÁcil o que colocou-nos numa situação de vulnerabilidade” – explicou Marta.
A nossa interlocutora acrescentou que com a morte do marido e a escassez do peixe e do camarão viu-se obrigada a dedicar-se Á venda de canivetes e amêijoas que apanha na praia da Costa do Sol, em Maputo.
Todavia, de acordo com os seus depoimentos, o rendimento diÁ¡rio, daquela actividade suplementar não é suficiente para alimentar os filhos e netos, sobre a sua responsabilidade.
Marta Chiconela precisou que vende a lata de canivete ao preço de 10 meticais e a da amêijoa por 20 meticais. Em média vende por dia cerca de 10 latas, aplicando toda a receita do dia, nas despesas diÁ¡rias, incluindo o transporte dos netinhos para deslocarem-se Á escola.
VirgÁnia Mulhui de 54 anos, mãe de 11 filhos, disse por sua vez que conseguiu educar e sustentar os filhos com o dinheiro resultante da venda de mariscos, de peixe magumba, peixe pedra e camarão.
VirgÁnia disse ainda que nos últimos anos a venda de peixe tem sido um verdadeiro fracasso, dada a escassez destes frutos do mar, por um lado e a alta de preços ao consumidor, o que torna cada vez reduzida a procura do pescado pelas famÁlias.
Pior de tudo é que os pescadores chegam a ficar uma semana sem apanhar peixe no mar.
Armando Namburete, 53 anos de idade, com uma longa experiência no contacto com o mar, disse ter começado a trabalhar com 19 anos a convite de um seu cunhado.
“… E nessa altura, o trabalho da pesca era rentÁ¡vel. Entretanto, de um tempo para cÁ¡, só vamos ao mar por hÁ¡bito e porque não sabemos fazer outra coisa. Levarmos mais de um dia no mar e voltarmos a terra sem nada”, explicou com um olhar triste.
Falando sobre os factores que condicionam a fraca captura de mariscos, o ambientalista Namburete disse que muitas vezes devido ao intenso calor a Á¡gua fica muito quente acima do normal e, nessa altura, algumas espécies acabam morrendo ou deslocando-se a locais onde haja garantias de sua sobrevivência.
Nestes casos só os pescadores que praticam a pesca de linha é que conseguem algumas quantidades de peixe, mas aÁ o preço do pescado aumenta.
O Coordenador dos Serviços Ambientais e Consultoria do Centro Terra Viva, Marcos Pereira revelou-nos que no quadro do impacto negativo na actividade piscatória por causa das mudanças climÁ¡ticas hÁ¡ o registo da acidificação do mar, aumento da temperatura da Á¡gua do mar e consequentemente, a ocorrência de calamidades naturais como; ciclones, erosão, entre outros fenómenos da natureza.
Olhando especificamente para a situação de Moçambique Marcos Pereira defende que não hÁ¡ dúvidas que o oceano estÁ¡ sofrendo mudanças dramÁ¡ticas que terão num futuro próximo um impacto imprevisÁvel, mas severo na vida humana.
Esta constatação, de acordo com Pereira, justifica a urgência de um conjunto de acçÁµes tendentes a mitigar os efeitos que advém das mudanças climÁ¡ticas. Pois, segundo a fonte os eventos de acidificação das Á¡guas do mar vão provocar a extinção de muitas espécies com destaque para o camarão, o que indicia que daqui por diante a reprodução do camarão nas Á¡guas moçambicanas serÁ¡ impossÁvel.
Para colmatar os problemas ambientais, de acordo com o Pereira, é preciso preparar estratégias de adaptação a estas mudanças climÁ¡ticas, com destaque para a plantio de mangais, nas zonas costeiras, como forma de evitar a erosão.
Aida Matsinhe é uma jornalista freelance em Maputo. Esta história faz parte do Serviço de NotÁcias da Gender Links, oferecendo novos pontos de vista sobre o dia-a-dia da actualidade informativa.
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