Moçambique: Queda de nÁ­veis de pescado afecta mulher


Date: May 28, 2012
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Maputo, Abril de 2012- Apesar da pesca ser uma actividade dominada pelos homens, o seu sucesso ou fracasso também afecta a mulher uma vez que invariavelmente é ela quem leva o peixe do barco Á  banca para a sua comercialização. Por isso, os desafios que surgem nesse sector devem ter em conta a questão de género.

Nos últimos anos, os pescadores e vendedores de peixe da cidade de Maputo queixam-se da queda dos nÁ­veis de captura, o que significa uma redução dos seus rendimentos. Este é o caso de Vitória Tembe, 58 anos de idade, que hÁ¡ 37 anos compra peixe junto de pescadores da Costa do Sol para revender nos bairros da cidade, mas o negócio tem estado difÁ­cil nos últimos anos devido Á  redução do pescado.

Até agora, não existe nenhum estudo sobre as reais causas por detrÁ¡s da escassez do peixe, mas sabe-se que existe uma relação directa entre as alteraçÁµes climÁ¡ticas e a disponibilidade de espécies marinhas. Um relatório do Programa das NaçÁµes Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), divulgado em 2008, aponta as mudanças climÁ¡ticas como a mais recente ameaça aos recursos pesqueiros, o que poderÁ¡ afectar a alimentação de cerca de 2,6 biliÁµes da população global cuja principal fonte de proteÁ­nas são os mariscos.

De acordo com o relatório, os sistemas naturais de bombeamento dos oceanos, que trazem nutrientes ao peixe e que também ajudam a expelir detritos e poluentes, estão em ameaça devido a crescente subida das emissÁµes dos gases de efeito estufa – o aumento das emissÁµes de dióxido de carbono na atmosfera poderÁ¡ elevar os nÁ­veis de Á¡cido nos mares e oceanos, o que irÁ¡ prejudicar o desenvolvimento de corais.

Apesar dos nÁ­veis globais do pescado em Moçambique terem aumentado de 164 mil toneladas, em 2010, para 190 mil toneladas, em 2011, as autoridades moçambicanas admitem que os nÁ­veis de captura do peixe na BaÁ­a de Maputo podem estar a decrescer. Todavia, as autoridades apontam para outros factores como possÁ­veis causas para a queda.

Segundo Gabriel Muthisse, vice-ministro das Pescas, a queda das capturas de peixe de pequena escala na BaÁ­a de Maputo pode resultar do aumento da pressão sobre os recursos devido Á s mudanças demogrÁ¡ficas, da economia e dos hÁ¡bitos de consumo, e não necessariamente das mudanças climÁ¡ticas ao nÁ­vel global.

Não obstante os argumentos do vice-ministro, o certo é que a BaÁ­a de Maputo é assolada pela subida dos nÁ­veis do mar, o que além da erosão costeira, também provoca problemas de intrusão salina no continente.

Por outro lado, os nÁ­veis de captura de peixe baixaram sobremaneira, o que afecta as condiçÁµes de vida das pessoas dependentes da pesca, incluindo as mulheres. Para o caso particular da idosa Vitória, por exemplo, o peixe que em tempos foi suficiente para sustentar os seus oito filhos órfãos de pai hoje jÁ¡ não chega para prover uma vida condigna aos seus três netos que ficam em casa, enquanto ela vai trabalhar.

“HÁ¡ muito tempo, nós apanhÁ¡vamos camarão aqui mesmo perto da costa e tÁ­nhamos muito marisco que até vendÁ­amos nos restaurantes e hotéis, mas agora, Á s vezes ficamos duas semanas sem peixe, os pescadores vão ao mar e regressam sem nada, gastando combustÁ­vel de borla”, lamentou Vitória Tembe.

Por isso, é preciso fazer-se estudos aprofundados sobre os efeitos das mudanças climÁ¡ticas nas pescas para se saber com precisão o seu real impacto nesta Á¡rea. Por outro lado, este estudo deve considerar a questão do género, pois tanto o homem como a mulher são actores principais neste sector de actividade.

Assim, a Estratégia Nacional sobre Mudanças ClimÁ¡ticas ainda em elaboração em Moçambique, bem como nas outras demais polÁ­ticas de adaptação e mitigação deste fenómeno, deve considerar a questão do género, pois as mulheres são também parte, senão a maioria, do grupo assolado por este fenómeno.

AliÁ¡s, por causa do fracasso do negócio do peixe, o fornecedor de Á¡gua da famÁ­lia da idosa Vitória decidiu rescindir o contrato por causa da falta de pagamento. Além de poder levantar os problemas de higiene familiar, essa situação agravou as jÁ¡ difÁ­ceis condiçÁµes de vida dos netos, jÁ¡ que agora têm de dedicar um tempo e esforço adicional para buscar Á¡gua a pequenos fornecedores do bairro, o que pode prejudicar os seus rendimentos escolares.

Muhamud Matsinhe é jornalista da AIM. Este artigo faz parte do Serviço de Opinião e ComentÁ¡rio da Gender Links, oferecendo-te novas perspectivas sobre notÁ­cias do dia-a-dia.

 


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