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A constante falta de chuvas estÁ¡ a arruinar a temporada agrÁcola e a provocar a escassez de Á¡gua em Chicualacuala, provÁncia de Gaza, sul de Moçambique, reduzindo drasticamente a renda de camponesas como Carlota Chivambo e Celeste Siduava.
No entanto, a polÁtica governamental das NaçÁµes Unidas para mitigar as consequências das mudança climÁ¡ticas naquele distrito parece contemplÁ¡-las.
No local dislumbra-se um projecto denominado Alcance dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (MDGF) – Programa Conjunto das NaçÁµes Unidas sobre a Valorização Ambiental e Adaptação Á s Mudanças ClimÁ¡ticas em Moçambique.
A iniciativa, orçada em USD 7.0 milhÁµes finaciados pelo reino da Espanha, tem por objectivo desenvolver actividades que possam fazer com que as comunidades se adaptem Á s mudanças climÁ¡ticas.
“Fomos atingidas por todos os lados”, lamenta Carlota Chivambo. Ela e Celeste Siduava elas que fazem parte de centenas de mulheres que estão a sofrer directamente o impacto das mudanças climÁ¡ticas em Chicualacuala, um distrito da provÁncia de Gaza, que dista a pouco mais de 500 quilómetros da capital moçambicana (Maputo) e faz fronteira com o ZimbÁ¡bwe.
Chivambo, 46 anos, vive na localidade de Chicualacuala “B”, distrito do mesmo nome. Diariamente percorre 12 quilómetros Á busca de Á¡gua. Todas fontes de Á¡gua existentes no seu povoado secaram. Não se lembra da última vez que viu a chuva cair de forma abundante.
A única fonte que resta (um charco) estÁ¡ sub-carregada e a ficar sem Á¡gua. As pessoas junto com o gado bovino disputam a mesma fonte. A Á¡gua é imprópria para o consumo humano. Mas não hÁ¡ nada a fazer.
“Sei que a Á¡gua estÁ¡ suja e pode nos provocar doenças sobretudo nas crianças, mas não hÁ¡ outra alternativa. Mais vale morrer dentro de alguns anos de uma qualquer doença do que morrer hoje de sede”, ironizou Chivambo, que percorre 12 quilómetros de Chicualacuala “B” até ao povoado de Madulo Á busca de Á¡gua.
Celeste Siduava, 38 anos, também residente na zona de Chicualacuala “B”, não escapa Á s dificuldades passadas por Chivambo e centenas de outras mulheres.
As dificuldades da vida obrigaram a sua famÁlia a buscar engenhosas formas da divisão de trabalho. Por causa disso as crianças são obrigadas a abandonar a escola.
“Somos duas mulheres na mesma casa. Enquanto eu estou Á busca Á¡gua a outra fica procura de algo para cozinhar. O nosso marido produz carvão para vender e as crianças mais crescidas vão a pastagem do gado”, frisou.
Siduava nota as mudanças negativas na zona nunca vistas anteriormente. Apontou a seca persistente, o desaparecimento de riachos e lagoas, a estiagem do rio Limpopo, o desaparecimento de animais bravios de pequeno porte como o caso de coelhos, macacos, gazelas, ratazanas entre outros. A erosão também é preocupante.
As inqueitaçÁµes do régulo
“Estamos a sofrer. A seca é enorme aqui na nossa zona. JÁ¡ não praticÁ¡mos agricultura por falta de chuva. O gado estÁ¡ a morrer por falta de Á¡gua e de campos de pastagem. Nem os apelos que fazÁamos aos antepassados para libertarem a chuva jÁ¡ não servem. Não sabemos o que fazer e cada ano que passa o calor aumenta”, observou Irriaga Chivoze, régulo do povoado de Madulo, posto administrativo de Mapai, distrito de Chicualacuala.
Chivoze reconhece que é uma realidade que Chicualacuala enfrenta problemas de chuva. Mas, sempre que chegasse a época chuvosa (Outubro a Março) a quantidade de chuva que caia era suficiente para assegurar a produção agrÁcola desde a sementeira até a colheita, desenvolvimento de pastagens e de reservas de Á¡gua para as comunidades e o gado beberem.
Actualmente, em Chicualacuala praticamente todos os rios e riachos, lagoas e charcos, poços e concentraçÁµes de Á¡gua secaram. A população é obrigada a caminhar entre 12 a 15 quilómetros Á busca de 20 litros de Á¡gua.
O Plano de Acção Nacional de Combate a Seca e Desertificação (PANCSD 2003) do ministério para a Coordenação da Acção Ambiental (MICOA) aponta que questÁµes de ordem social, económica, cultural, segurança alimentar, migração, Á¡gua potÁ¡vel, entre outros, estão intimamente ligadas Á desertificação no distrito de Chicualacuala.
“Com o fenómeno das mudanças climÁ¡ticas a vida humana fica difÁcil, mas da mulher fica particularmente cada vez mais pesada”, lamenta a ministra da coordenação para a acção ambiental, Alcinda Abreu.
Carlos Cossa, o chefe do posto administrativo de Mapai, distrito de Chicualacuala, apelidou a situação vivida na região de dramÁ¡tica.
“A seca estÁ¡ a tirar todas fontes de sobrevivências das comunidades”, alertou Cossa.
Sem a possibilidade da prÁ¡tica de agricultura e da criação de gado as populaçÁµes estão a imigrar para outro tipo de actividades. Recorrem Á s florestas a busca de lenha e carvão. Mas estas duas últimas actividades estão a tornar o Posto bem como o distrito cada vez mais vulnerÁ¡vel Á s secas.
Andrew Mattick, coordenador do Programa Conjunto das NaçÁµes Unidas sobre a Valorização Ambiental e Adaptação Á s Mudanças ClimÁ¡ticas em Moçambique, conta que no distrito de Chicualacuala, as mudanças climÁ¡ticas evidenciam-se em ocorrências relacionadas de secas prolongadas, ventos fortes e temperaturas altas facto que desagua na falta de Á¡gua e de alimentos.
“O nosso programa estÁ¡ a potenciar a sustentabilidade dos furos de Á¡gua, a reabilitação de pequenas barragens e sistemas de irrigação”, disse Mattick.
“O governo de Moçambique pediu-nos para que implementÁ¡ssemos este projecto aqui no distrito de Chicualacuala por ser um dos distritos mais carentes do paÁs em tudo. A distância e a precariedade das vias de acesso fazem com que o distrito seja dos mais preteridos em vÁ¡rias iniciativas”, observou Mattick.
Um estudo da Organização das NaçÁµes Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), divulgado em princÁpios de Junho deste ano, conclui que a produção de alimentos ficarÁ¡ prejudicada devido Á s mudanças climÁ¡ticas e alerta sobre impactos ainda desconhecidos.
O documento faz notar que as mudanças climÁ¡ticas poderão causar escassez de Á¡gua nas próximas décadas para o cultivo e produção de alimentos em todo mundo.
📝Read the emotional article by @nokwe_mnomiya, with a personal plea: 🇿🇦Breaking the cycle of violence!https://t.co/6kPcu2Whwm pic.twitter.com/d60tsBqJwx
— Gender Links (@GenderLinks) December 17, 2024
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