SHARE:
Na conferência sobre mudanças climÁ¡ticas em Durban, África do Sul, muitas discussÁµes centraram-se sobre o aumento de ocorrência e severidade de climas extremos, o impacto sobre as culturas e segurança alimentar, e futuro acesso Á Á¡gua, mas pouca ligação se fez entre as mudanças climÁ¡ticas e violência do género.
Para Gladys Moyo, de 35 anos de idade, de Embangweni, em Mzimba, norte do Malawi, as mudanças climÁ¡ticas tiveram um impacto pessoal. Após 15 anos de um casamento feliz, o marido da Moyo abandonou-a quando a terra que ela cultivava deixou de produzir comida, uma consequência das mudanças climÁ¡ticas no Malawi.
Moyo e o esposo trabalhavam como camponeses numa farma de tabaco em Embangweni, mas para ajudar a prover para a sua famÁlia, a mãe de oito filhos continuou a cultivar a sua machamba. “Visto que a farma estava localizada na minha aldeia natal, durante a época de plantio deslocava-me Á minha aldeia situada Á 20 kms da farma, para produzir comida na machamba para o meu esposo e filhos,” diz.
Entre 2007 e 2008, as culturas de Gladys Moyo secaram devido Á uma estiagem severa como resultado de mudanças climÁ¡ticas. Ao mesmo tempo, preços baixos de tabaco significaram que o dono da farma teve muitas dÁvidas e não pode pagar-nos a tempo.”
Para salvar a sua famÁlia de fome, Moyo pediu emprestado de dinheiro nos finais de 2008 da sua irmã mais velha para começar um pequeno negócio. “Vendia tomate no Centro Comercial de Embangweni para colocar comida na mesa para o meu marido e filhos,” diz Moyo.
Todavia, o seu negócio foi de pouca duração porque o seu último filho teve malÁ¡ria cerebral e a conta médica reduziu o seu pequeno capital. Quando o hospital deu alta ao filho depois de 14 dias de tratamento, os seus bolsos estavam vazios e ela não foi capaz de retomar o seu negócio de venda de tomate. As coisas foram de mau a pior.
“Quando cheguei Á casa após a alta do meu filho, o meu esposo tinha desaparecido,” diz Moyo, acrescentando que o marido nunca a visitou no hospital.
Nessa altura ele jÁ¡ estava a viver com uma outra mulher. “Mal ouviu que eu tinha voltado do hospital veio buscar toda a sua roupa,” explica. “Mas antes de sair, discutimos. Chamou-me todo o tipo de nomes por não ter conseguido alimentÁ¡-lo. Depois partiu mas sem que antes me batesse.”
Numa anÁ¡lise sobre “mudanças climÁ¡ticas e o género”, a Dra Wendy Annecke escreve na pÁ¡gina da internet do departamento da organização sul-africana, Indigo, Development and Change, que existe uma grande necessidade de incluir perspectivas do género em programas de adaptação Á s mudanças climÁ¡ticas. Como mostra a estória de Moyo, mesmo uma pequena mudança climÁ¡tica tem um impacto significativo sobre as camponesas.
Segundo Annecke, o elemento do género em mudanças climÁ¡ticas e adaptação refere-se ao diferente impacto que as mudanças climÁ¡ticas têm sobre os homens e mulheres, e as diferentes formas com que os homens e mulheres respondem Á elas e são capazes de lidar com as mudanças climÁ¡ticas.
“Estamos a falar de homens e mulheres pobres e as diferenças sobre como são capazes de mudar de mecanismos de adaptação de curto prazo para resiliência,” diz Annecke, acrescentando que as polÁticas e prÁ¡ticas devem ter o cuidado de não consolidar ou estender essas desigualdades.
Annecke também indica que a migração é uma outra armadilha das mudanças climÁ¡ticas, e que os homens tendem a ser mais capazes de usar a mobilidade como uma resposta.
“A sua habilidade para migrar em busca de oportunidades económicas torna fÁ¡cil que os homens lidem com a crise, e pode resultar em benefÁcios para toda a famÁlia,” diz Annecke. “Porém, a migração masculina frequentemente aumenta o peso do trabalho das mulheres, visto ficarem em casa a cuidar da famÁlia para além das tarefas habituais. Pode também aumentar a exposição da mulher Á riscos tais como a violência baseada no género e infecçÁµes com HIV”
Mas, para Annecke, as mulheres não são apenas vÁtimas de mudanças climÁ¡ticas mas agentes de mudança que possuem conhecimento e habilidades únicas que devem ser reconhecidas e empregues no desenvolvimento da resiliência.
Existe também a necessidade de aumentar significativamente a consciencialização Á s mudanças climÁ¡ticas. Como no caso de Gladys Moyo, as mulheres tendem a ser culpadas pela falta de comida, resultando em discórdia marital visto ainda não existir um bom entendimento sobre as mudanças climÁ¡ticas nas comunidades.
Em Malawi, por exemplo, o Ministério de Agricultura tentou explicar que 20 milhÁµes de toneladas de terra que teria sido usada para a produção de alimentos é anualmente arrastada devido Á degradação ambiental, incluindo o desmatamento e mudanças na agricultura, mas as pessoas quase que não acreditam nisto e daÁ continuarem a degradar o ambiente.
“As pessoas precisam de serem ditas o que são as mudanças climÁ¡ticas e o impacto negativo que causam Á sociedade,” diz o Director interino dos Assuntos Ambientais do Malawi, Aloysius Kamperewera. Kamperewera explica que as mudanças de temperatura devido Á s mudanças climÁ¡ticas mostra vÁ¡rias zonas de Malawi a experimentar secas e inundaçÁµes durante a época de plantio.
“Estes afectam mais mulheres do que homens porque são a maioria (acima de 70%) dos nossos camponeses,” disse Kamperewera.
Espera-se que na conferência do Rio +20 se debate seriamente sobre o que as mudanças climÁ¡ticas significam para uma camponesa como Gladys Moyo.
Frazer Potani é um jornalista Malawiano.
Comment on Mudanças climÁ¡ticas podem causar conflitos domésticos