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As vidas de mulheres e florestas estão estreitamente interligadas. As mulheres usam as Á¡rvores para lenha, como uma fonte de ervas medicinais, cola, alimento para animais, cera, mel e frutas. As florestas ajudam no alÁvio da pobreza visto que as mulheres podem sustentar as suas famÁlias vendendo fruta. As mulheres também usam as Á¡rvores como sombra e protecção contra o vento em suas casas, e os galhos resultam em boas vassouras com as quais varre-se o quintal.
Sendo as florestas e Á¡rvores vitais no dia-a-dia, as mulheres estão a exigir que lhes sejam dadas palavra na implementação da REDD, um acrónimo de uma iniciativa para a redução de emissÁµes resultantes do desmatamento e degradação florestal. Regan Suzuki da REDD-net Asia defendeu o caso da inclusão das vozes e interesses de mulheres na negociação de polÁticas e implementação da REDD. “O género importa porque a mulher merece informação, participação e benefÁcios equitativos,” disse Suzuki, elecando o seu argumento numa abordagem baseada nos direitos humanos.
Embora os que participam em encontros de discussão das mudanças climÁ¡ticas reconhecem a importância da contribuição feminina, a dimensão do género raramente figura em questÁµes relacionadas com as florestas e restauro das mesmas. O facto é que as poucas mulheres que ocupam posiçÁµes de influência no sector das florestas contribuem nos debates.
“O trabalho florestal é identificado como trabalho de homens,” diz Yani Septiani, uma representante do ministério indonésio das florestas. Isto pode levar Á polÁticas não baseadas no género. Tem-se discutido que as mulheres não podem ser lÁderes porque não podem ler ou escrever mas “as mulheres são as principais actoras nas florestas e têm melhores formas de conservÁ¡-las,” acrescentou Septiani.
Jeanette Gurung, Directora Executivo da Organização Feminina para Mudança na Agricultura e Gestão de Recursos Naturais (WOCAN), indicou que pesquisando se as organizaçÁµes que trabalham no sector das florestas tinham incorporado o género nas suas polÁticas, descobriram que algumas não conheciam os instrumentos internacionais tais como a Convenção para a Eliminação da Discriminação Contra a Mulher (CEDAW). Ironicamente, conheciam os instrumentos protegendo os povos indÁgenas, tais como a Declaração das NaçÁµes Unidas sobre os Direitos dos Povos IndÁgenas (UN DRIP).
Nem todas as mulheres são sensÁveis ao género e existe a necessidade de capacitar as mulheres a tomarem a dianteira na gestão florestal, bem como abrir espaços para a participação e empoderamento da mulher na compreensão das florestas. Nas Filipinas, abriram uma escola para mulheres de modo a facilitar o conhecimento sobre partilha.
O derrube das florestas e a conservação das florestas têm um impacto directo sobre as vidas das mulheres. Ter pouca lenha pode contribuir para que as mulheres preparem alimentos com pouco valor nutritivo e caminhem longas distâncias Á procura de lenha.
“Fontes de alto valor nutritivo como as lentilhas podem reduzir,” argumentou Suzuki, se as mulheres tomassem em conta o tempo e lenha usados para cozinhar tais alimentos. Ela acrescentou que em algumas Á¡reas as mulheres sentiam que tinham segurança alimentar baseado no tamanho do monte de lenha armazenado me suas casas. Esta segurança podia ser perdida se a lenha reduzisse, devido Á restriçÁµes no uso das florestas. Mas como assegurar que decisÁµes emanadas das grandes discussÁµes sobre mudanças climÁ¡ticas cheguem até Á s bases?
Marlea Munez da Iniciativa Feminina para a Sociedade, Cultura e Ambiente disse: “Exigimos que reuniÁµes pós-COP17 tenham lugar não apenas nas zonas urbanas mais também rurais, visto que as decisÁµes da COP também afectam os povos rurais.” Munez disse que as delegaçÁµes oficiais dos governos devem Á s comunidades rurais organizarem tais reuniÁµes de modo a que elas possam entender facilmente as decisÁµes. “Deviam ter a tarefa de traduzi-las em linguagem simples baseada nas circunstâncias locais,” disse.
Na reunião da REDD as mulheres sugeriram formas através das quais o género podia ser incorporado em iniciativas da REDD. Elas incluem incorporar a anÁ¡lise do género e estratégias de planeamento em todas as fases de preparação e implementação da REDD+, desenvolvimento de ferramentas de monitoria do género com dados desagregados do género; sensibilização sobre a consideração de mulheres como parceiras; e abordar as questÁµes de propriedade nos esforços visando assegurar o direito da mulher aos produtos florestais e do carbono.
“As polÁticas da REDD+ devem ultrapassar os princÁpios de não causar danos para fornecer processos que avancem os direitos da mulher aos recursos florestais e benefÁcios da REDD+,” argumentou Abidah Setyowati num documento polÁtico da WOCAN. “As questÁµes do género serão abordadas com mais eficÁ¡cia se colocarmos estes assuntos na mesa de negociaçÁµes,” disse.
“O agro-florestamento é uma estratégia efectiva para o envolvimento da mulher na conservação florestal,” acrescentou Suzuki. Ela pode abordar as necessidades da mulher, que muitas vezes diferem com as do homem no concernente Á s florestas. Podia permitir que mulheres trouxessem Á mesa diferentes perspectivas quando comparadas Á s dos homens. Isto ajudaria as mulheres a serem reconhecidas como membros da comunidade que podem contribuir em deliberaçÁµes sobre o bem-estar da mesma.
E para quem pensa que as mulheres rurais não podem ter tempo ou interesse em participar nos fóruns e na tomada de decisÁµes, Suzuki afirma que deve pensar melhor. As mulheres que caminham longas distâncias para participar em grupos comunitÁ¡rios de utentes de florestas o fazem porque essas reuniÁµes oferecem-nas “uma identidade pública, e são capazes de votar e estarem envolvidas na tomada de decisÁµes,” disse Suzuki. Fazendo isso, estarÁamos a criar campeãs da REDD nas mulheres e salvar o nosso ambiente.
Florence Sipalla é uma Oficial de Programa e Sub-editora do Centro da Diversidade dos Média do Centro de Mulheres Africanas, e Loga Virahsawmy é a Directora do Escritório de Francofonia da Gender Links nas MaurÁcias. Este artigo é parte do Serviço de Opinião e ComentÁ¡rio da Gender Links.
Comment on Mulheres exigem inclusão nos esforços para salvar florestas