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Maputo, 10 de Setembro: A Comissão Constitucional para a Protecção dos Direitos das Comunidades Culturais, Religiosas e LinguÁsticas da Africa do Sul estÁ¡ agastada com a incidência de casos de circuncisão masculina, sem as mÁnimas condiçÁµes de higiene, no PaÁs do saudoso Madiba.
A comissÁ¡ria Bernedette Muthien manifestou esta preocupação em entrevista exclusiva ao GLNS, tendo destacado que esta prÁ¡tica desumana estÁ¡ a ter efeitos nefastos na saúde e na vida dos circuncisados. “Ou ficam sem o pénis ou contraem ferimentos graves nos órgãos genitais”, explicou Muthien.
A comissÁ¡ria precisou que “a operação acontece no mato, em condiçÁµes anti-higiénicas, com o uso de facas ou lâminas sujas e não esterilizadas, o que resulta em consequências desastrosas, incluindo a propagação de HIV/SIDA”.
Muthien afirmou ainda que a circuncisão feita em condiçÁµes inadequadas, nalgumas vezes, salda-se em mortes devido Á perca excessiva de sangue por parte da pessoa circuncisada.
Com efeito, na África do Sul, estima-se que em média, mais de 100 pessoas morrem anualmente devido Á circuncisão mal feita.
Em 2013, foram reportadas 30 mortes, apenas, na provÁncia Sul-Africana do Cabo Oriental.
Coincidentemente, estas mortes ocorreram durante a época em que os jovens e adolescentes, na África do Sul, são submetidos ao ritual de passagem para a masculinidade.
A serem associadas estas mortes ao ritual, este, pode ser desacreditado pelas comunidades, particularmente, as tradicionais apesar de ser de uma mais-valia na luta contra a propagação da epidemia do HIV/Sida.
No mesmo incidente, 300 outros jovens tiveram de ser tratados nos hospitais depois de terem contraÁdo ferimentos graves.
A Africa do Sul, de acordo com o Barómetro do Protocolo de Género de 2014, é o quarto paÁs mais afectado pelo HIV na região da Africa Austral, sendo a seroprevalência actual da ordem de 19.1 por cento.
Antes da África do Sul, dominam o ranking de alta prevalência do HIV/Sida a Suazilândia, com 27.4%, Lesoto, com 22.9% e o Botswana, com 21.9 por cento.
Muthien mostra-se desapontada ainda pelo facto de a prÁ¡tica da circuncisão tradicional ter-se tornado num negócio sujo e nas mãos de pessoas inexperientes e de mÁ¡-fé. Tais pessoas, ainda segundo a comissÁ¡ria da Genderlinks, “chegam a cobrar até R1.500 (mil e quinhentos rands) por cada jovem a circuncisar, no mato, como parte dos ritos de iniciação”.
“E esta, pode ser a metade das razÁµes que poderão estar associadas Á s causas da morte de muitos jovens que, no campo, procuram estes serviços, devido Á uma prÁ¡tica cultural ancestral, ora transformada e marco na passagem da infância Á masculinidade. Infelizmente, comercialmente explorada por pessoas gananciosas” – explica Bernedette Muthien.
A circuncisão masculina quando realizada em unidades sanitÁ¡rias é de fÁ¡cil e rÁ¡pida cicatrização, higiénica e sem dor.
A circuncisão masculina consiste na remoção da pele que envolve a cabeça do pénis.
Trata-se de uma pequena e simples cirurgia gratuita, nos hospitais públicos da Africa do Sul e dura aproximadamente trinta minutos, com a aplicação da anestesia local.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a circuncisão masculina reduz em 60% o risco de infecção com o vÁrus da SIDA ou seja, em cada dez pessoas circuncisadas apenas 4 podem se correr o risco de serem infectadas pelo vÁrus da Sida.
A OMS recomendada a prÁ¡tica de circuncisão médica massiva em vÁ¡rios paÁses africanos, apesar de a circuncisão em si, não ser nenhuma “vacina” contra o HIV/Sida.
Estudos recentes realizados pela organização Sul-Africana, Brothers for Life – amigos para a vida, indica que a maioria dos homens na Africa do Sul pratica a circuncisão masculina por razÁµes culturais. Esta, pode ser a razão que justifica o porquê de muitos sul-africanos ainda preferirem fazer esta pequena cirurgia de forma tradicional.
Entretanto, o mesmo estudo concluiu também que poucas pessoas estão informadas sobre a redução do risco de contaminação pelo HIV, em indivÁduos circuncisados. Porém, Brothers for Life defende que apesar de tal redução é salutar se promover o uso do preservativo e a redução do número de parceiros sexuais ocasionais.
A Comissão Constitucional para a Protecção dos Direitos das Comunidades Culturais, Religiosas e LinguÁsticas diz-se Á favor da promoção dos bons valores culturais, em particular, nas escolas que educam aos jovens do sexo masculino, a serem amÁ¡veis para com as mulheres e as raparigas.
Bernedette Muthien é uma dos 12 comissÁ¡rios empossados em Abril último, pelo presidente sul-africano, Jacob Zuma, para, entre outras coisas, promover o respeito e a proteção dos direitos das comunidades culturais, religiosas e linguÁsticas.
Os comissÁ¡rios, têm ainda, a missão de promover e desenvolver a paz, a amizade, a humanidade, tolerância, unidade nacional entre e dentro das comunidades, com base na igualdade e da livre associação.
Tem ainda, o dever de promover o direito das comunidades de desenvolver a sua herança histórico-cultural e de reconhecer os conselhos comunitÁ¡rios.
“Para desencorajar as prÁ¡ticas de circuncisão tradicional mal feita, o trabalho dos comissÁ¡rios inclui a pesquisa para percebermos o que efectivamente estÁ¡ acontecer, quando, como e porquê? Faz também parte das nossas tarefas educar as comunidades, particularmente os lÁderes comunitÁ¡rios a promoverem as boas prÁ¡ticas culturais que não pÁµem em perigo a integridade humana,” – defendeu Muthien.
Bernedette Muthien reconhece por outro lado que o trabalho não é deveras fÁ¡cil pois, “Requer a colaboração de todos na educação e sensibilização das comunidades para enveredarem pelo respeito mútuo, cidadania, paz, coesão social e unidade nacional”.
Ainda no quadro da sua missão, a nossa interlocutora afirma que a comissão vai desencadear campanhas de educação cÁvica das comunidades com o apoio de jornalistas, escritores, desportistas, actores teatrais, músicos e artistas plÁ¡sticos, na sua qualidade de figuras públicas com forte influência nos seus fãs, em particular da juventude, para disseminarem mensagens convincentes que promovem o bem-estar das comunidades e desencorajam prÁ¡ticas nocivas ao ser humano, como é o caso da circuncisão tradicional que ceifa vidas e mutila os jovens.
José Tembe é o editor da Genderlinks em Maputo. Esta história faz parte do Serviço de NotÁcias da Gender Links, oferecendo novos pontos de vista sobre o dia-a-dia da actualidade informativa.
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