Na Africa do Sul: Erros na Circuncisão preocupam autoridades

Na Africa do Sul: Erros na Circuncisão preocupam autoridades


Date: October 29, 2014
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Maputo, 10 de Setembro: A Comissão Constitucional para a Protecção dos Direitos das Comunidades Culturais, Religiosas e LinguÁ­sticas da Africa do Sul estÁ¡ agastada com a incidência de casos de circuncisão masculina, sem as mÁ­nimas condiçÁµes de higiene, no PaÁ­s do saudoso Madiba.

A comissÁ¡ria Bernedette Muthien manifestou esta preocupação em entrevista exclusiva ao GLNS, tendo destacado que esta prÁ¡tica desumana estÁ¡ a ter efeitos nefastos na saúde e na vida dos circuncisados. “Ou ficam sem o pénis ou contraem ferimentos graves nos órgãos genitais”, explicou Muthien.

A comissÁ¡ria precisou que “a operação acontece no mato, em condiçÁµes anti-higiénicas, com o uso de facas ou lâminas sujas e não esterilizadas, o que resulta em consequências desastrosas, incluindo a propagação de HIV/SIDA”.

Muthien afirmou ainda que a circuncisão feita em condiçÁµes inadequadas, nalgumas vezes, salda-se em mortes devido Á  perca excessiva de sangue por parte da pessoa circuncisada.
Com efeito, na África do Sul, estima-se que em média, mais de 100 pessoas morrem anualmente devido Á  circuncisão mal feita.

Em 2013, foram reportadas 30 mortes, apenas, na provÁ­ncia Sul-Africana do Cabo Oriental.
Coincidentemente, estas mortes ocorreram durante a época em que os jovens e adolescentes, na África do Sul, são submetidos ao ritual de passagem para a masculinidade.
A serem associadas estas mortes ao ritual, este, pode ser desacreditado pelas comunidades, particularmente, as tradicionais apesar de ser de uma mais-valia na luta contra a propagação da epidemia do HIV/Sida.

No mesmo incidente, 300 outros jovens tiveram de ser tratados nos hospitais depois de terem contraÁ­do ferimentos graves.

A Africa do Sul, de acordo com o Barómetro do Protocolo de Género de 2014, é o quarto paÁ­s mais afectado pelo HIV na região da Africa Austral, sendo a seroprevalência actual da ordem de 19.1 por cento.

Antes da África do Sul, dominam o ranking de alta prevalência do HIV/Sida a Suazilândia, com 27.4%, Lesoto, com 22.9% e o Botswana, com 21.9 por cento.

Muthien mostra-se desapontada ainda pelo facto de a prÁ¡tica da circuncisão tradicional ter-se tornado num negócio sujo e nas mãos de pessoas inexperientes e de mÁ¡-fé. Tais pessoas, ainda segundo a comissÁ¡ria da Genderlinks, “chegam a cobrar até R1.500 (mil e quinhentos rands) por cada jovem a circuncisar, no mato, como parte dos ritos de iniciação”.

“E esta, pode ser a metade das razÁµes que poderão estar associadas Á s causas da morte de muitos jovens que, no campo, procuram estes serviços, devido Á  uma prÁ¡tica cultural ancestral, ora transformada e marco na passagem da infância Á  masculinidade. Infelizmente, comercialmente explorada por pessoas gananciosas” – explica Bernedette Muthien.

A circuncisão masculina quando realizada em unidades sanitÁ¡rias é de fÁ¡cil e rÁ¡pida cicatrização, higiénica e sem dor.

A circuncisão masculina consiste na remoção da pele que envolve a cabeça do pénis.
Trata-se de uma pequena e simples cirurgia gratuita, nos hospitais públicos da Africa do Sul e dura aproximadamente trinta minutos, com a aplicação da anestesia local.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a circuncisão masculina reduz em 60% o risco de infecção com o vÁ­rus da SIDA ou seja, em cada dez pessoas circuncisadas apenas 4 podem se correr o risco de serem infectadas pelo vÁ­rus da Sida.

A OMS recomendada a prÁ¡tica de circuncisão médica massiva em vÁ¡rios paÁ­ses africanos, apesar de a circuncisão em si, não ser nenhuma “vacina” contra o HIV/Sida.

Estudos recentes realizados pela organização Sul-Africana, Brothers for Life – amigos para a vida, indica que a maioria dos homens na Africa do Sul pratica a circuncisão masculina por razÁµes culturais. Esta, pode ser a razão que justifica o porquê de muitos sul-africanos ainda preferirem fazer esta pequena cirurgia de forma tradicional.

Entretanto, o mesmo estudo concluiu também que poucas pessoas estão informadas sobre a redução do risco de contaminação pelo HIV, em indivÁ­duos circuncisados. Porém, Brothers for Life defende que apesar de tal redução é salutar se promover o uso do preservativo e a redução do número de parceiros sexuais ocasionais.

A Comissão Constitucional para a Protecção dos Direitos das Comunidades Culturais, Religiosas e LinguÁ­sticas diz-se Á  favor da promoção dos bons valores culturais, em particular, nas escolas que educam aos jovens do sexo masculino, a serem amÁ¡veis para com as mulheres e as raparigas.

Bernedette Muthien é uma dos 12 comissÁ¡rios empossados em Abril último, pelo presidente sul-africano, Jacob Zuma, para, entre outras coisas, promover o respeito e a proteção dos direitos das comunidades culturais, religiosas e linguÁ­sticas.

Os comissÁ¡rios, têm ainda, a missão de promover e desenvolver a paz, a amizade, a humanidade, tolerância, unidade nacional entre e dentro das comunidades, com base na igualdade e da livre associação.

Tem ainda, o dever de promover o direito das comunidades de desenvolver a sua herança histórico-cultural e de reconhecer os conselhos comunitÁ¡rios.

“Para desencorajar as prÁ¡ticas de circuncisão tradicional mal feita, o trabalho dos comissÁ¡rios inclui a pesquisa para percebermos o que efectivamente estÁ¡ acontecer, quando, como e porquê? Faz também parte das nossas tarefas educar as comunidades, particularmente os lÁ­deres comunitÁ¡rios a promoverem as boas prÁ¡ticas culturais que não pÁµem em perigo a integridade humana,” – defendeu Muthien.

Bernedette Muthien reconhece por outro lado que o trabalho não é deveras fÁ¡cil pois, “Requer a colaboração de todos na educação e sensibilização das comunidades para enveredarem pelo respeito mútuo, cidadania, paz, coesão social e unidade nacional”.

Ainda no quadro da sua missão, a nossa interlocutora afirma que a comissão vai desencadear campanhas de educação cÁ­vica das comunidades com o apoio de jornalistas, escritores, desportistas, actores teatrais, músicos e artistas plÁ¡sticos, na sua qualidade de figuras públicas com forte influência nos seus fãs, em particular da juventude, para disseminarem mensagens convincentes que promovem o bem-estar das comunidades e desencorajam prÁ¡ticas nocivas ao ser humano, como é o caso da circuncisão tradicional que ceifa vidas e mutila os jovens.

José Tembe é o editor da Genderlinks em Maputo. Esta história faz parte do Serviço de NotÁ­cias da Gender Links, oferecendo novos pontos de vista sobre o dia-a-dia da actualidade informativa.

 

 

 


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